quarta-feira, 3 de outubro de 2012

A MÚSICA SERTANEJA DE GOIÁS – 1ª PARTE



Sua História, seus Intérpretes e seus Compositores. *

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Pesquisa feita por: Francisco Ricardo de Souza Jr (Chico Jr.)

                    



Dedicatória

Dedico este trabalho a toda a minha família, em especial à minha nobre e dedicada esposa Ana Lúcia de Oliveira Nunes que muito me apoiou na efetivação deste projeto. Também à minha amada mãe Elisângela Aparecida de Souza pela concretização deste sonho de ver todos os seus filhos formados. E por fim ao meu querido pai Francisco Ricardo de Souza (Marrequinho), o melhor ajuntador de versos que conheço, pelos exemplos dados, pelas horas e horas de conversas e bate papos que muito me auxiliaram na produção desta monografia.
 
 1ª PARTE
INTRODUÇÃO

"...Entre as quatro paredes
Do meu quartinho tão triste
Somente amargura vejo
Somente tristeza existe
A chuva cai ritmada
Fustigando a minha janela
Até o vento parece
Murmurar o nome dela..."


         A música “Três noites”, composição de Ubirajara Moreira e Marrequinho, compositores goianos, interpretada pela dupla mineira Silveira e Silveirinha em meados dos anos 60, mostra a temática de um amor não realizado, fato muito comum nas canções populares goianas dos idos anos 50 e 60 do século XX. Mas, esse trecho nos mostra também a preocupação dos autores em enquadrar sua composição e estética poética tradicional com versos metrificados e fechamento de frases rimadas, além de ornamentar a escrita com palavras pouco habituais, mostrando assim a preocupação em utilizar a língua culta e não a linguagem comumente falada pelo povo.

            No entanto, trata-se de uma letra escrita por compositores populares sertanejos e goianos em um período em que o estado de Goiás praticamente não existia no cenário político nacional, tampouco no cenário cultural do Brasil.
Ora, sendo essa cultura musical denominada sertaneja oriunda do corredor bandeirante, que abrange o norte do Paraná, o interior de São Paulo, o sul de Minas Gerais, o centro-sul do estado de Goiás e o sul de Mato Grosso,
ou seja, tendo essa música vinda da mesma origem para todos esses estados, ela não deveria ter as mesmas características em todas essas regiões?
Este foi o principal motivo que me levou a buscar maiores esclarecimentos sobre o tema proposto: a quase completa falta de registro documental por parte dos historiadores goianos e também por parte dos compositores desse período, que não tinham consciência de seu papel histórico na formação de um movimento artístico/cultural que marcará várias gerações.
É objetivo principal deste trabalho buscar o entendimento de parte da história cultural do estado de Goiás, ou seja, a pesquisa trata do que chamarei de “música sertaneja” produzida em Goiás entre os anos de 1950 a 1970. Produção essa que levará Goiás posteriormente a ser conhecido como o grande celeiro nacional de músicas, intérpretes e compositores deste estilo.
Para isso, analisaremos a vida e obra do compositor Marrequinho através da narrativa autobiográfica intitulada: MARREQUINHO - O Menino de Campo Formoso – Memórias de um artista sertanejo (Editora Kelps / 2010). Onde o autor nos dá um panorama da vida do cantador sertanejo em Goiás no período em questão.
Ao submetermos a estética da música sertaneja goiana a conceitos e padrões da música produzida em São Paulo, por exemplo, estamos deixando de levar em consideração as especificidades da formação cultural de cada estado, estabelecendo assim uma moldura cultural, pois cada uma tem suas singularidades, embora tenha similitudes como o fato de ser cantada em duetos de terças ou de sextas, os mesmos instrumentos, os mesmos temas. Porém, é valido ressaltar que não se trata aqui de determinar um purismo cultural referente à música goiana, mostrando-a como estática e impermeável a influências externas e sim destacar sua importância, características e singularidades na construção de uma estética musical própria que será responsável por rotular Goiás como um estado sertanejo, exportando música, cantores e compositores desse gênero artístico, influenciando consideravelmente os rumos da música sertaneja nacional.
Durante o período estudado, a maioria das gravações goianas foram realizadas em São Paulo, que era o grande polo cultural do país e que influenciou muito na criação artística goiana. Daí usarmos conceitos externos para denominarmos a nossa produção, sendo que até bem pouco tempo as pesquisas acadêmicas acerca deste tema eram todas produzidas fora de Goiás, demonstrando sempre uma visão unilateral da história da música sertaneja, ou seja, de São Paulo para cá. O que busco é levantar questionamentos sobre como Goiás também influenciou nesse cenário artístico, embora não seja citado nas pesquisas já publicadas a respeito do tema.
            Sendo aceita a tese do corredor bandeirante na formação do ideário popular que deu origem à música sertaneja como um expoente cultural, por que em nenhuma enciclopédia da música nacional há citações dos autores e intérpretes goianos desse período, sendo que houve artistas que se destacaram no cenário nacional? Tais como Miltinho da dupla Tibagi e Miltinho, Amarai da dupla Belmonte e Amarai, Robertinho da dupla Léo Canhoto e Robertinho, Duduca da dupla Duduca e Dalvan, Marinheiro da dupla Caçula e Marinheiro, Praião e Prainha, Lindomar Castilho, que chegou a gravar discos em espanhol e italiano para atender ao mercado latino, Trio da Vitória que faz shows pelo Brasil até hoje, devido à repercussão que obteve na época.
 Goiás, que é visto como estado de referência para a música sertaneja nacional, uma espécie de celeiro de criações de músicas desse gênero, não aparece em nenhum registro da história da música sertaneja, a não ser como tema muito explorado pelos paulistas ao citarem os sertões goianos em suas letras. A questão é que o contexto e a produção cultural sempre foram pensados, vividos e reproduzidos a partir de São Paulo.
            Entretanto ao analisarmos músicas goianas, percebemos diferenças que vão além da forma poética das letras, há também diferenças de interpretação (MORAIS, 1980, p. 214) que marcarão profundamente o estado de Goiás, diferenciando os cantores e compositores locais dos outros existentes no corredor bandeirante. Essa diferenciação começará a traçar o rótulo que posteriormente será dado ao estado de Goiás pela indústria cultural, o de celeiro da música sertaneja.
            Para isso, faremos no primeiro capítulo uma recomposição da origem do universo caipira e de sua formação cultural que será utilizada posteriormente como modelo para a música que será produzida na cidade. Bem como uma breve recomposição de fatos históricos que nos apoiarão na continuação desta pesquisa. E assim entendermos a absorção e a rejeição da música caipira/sertaneja junto a sociedade entre os anos de 1940 a 1960.
            No segundo capítulo iremos levantar alguns pontos importantes da história da musica sertaneja goiana, acompanhando a vida do cantor e compositor Marrequinho, um personagem importante dentro do contexto abordado.
            No âmbito desta pesquisa, o resultado esperado é o estímulo ao debate, de modo particular no meio acadêmico, com o surgimento de novas inquietações por parte dos historiadores que estão adentrando em novos espaços, relacionados à história do tempo presente, período até pouco tempo precariamente enfocado pelos historiadores mais tradicionais. E assim enriquecer o conhecimento sobre o estado em que vivemos e a arte que produzimos como meio de fortalecer e valorizar a nossa produção artística e a nossa cultura*.
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CONTINUA...

[1] Silveira e Silveirinha. Melodia da Saudade. Califórnia 1966

* Trecho extraído da Monografia-tese de Formatura no Curso de História, por Francisco Ricardo Souza Jr**, na Universidade Federal de Goiás.

** Francisco Ricardo de Souza Junior {Chico Jr} é filho do Compositor Marrequinho

A música caipira, sua evolução e seus diversos segmentos existentes hoje.

Contato com Marrequinho:






Um comentário:

  1. É com muito orgulho que vejo meu filho Chico Jr dissertando longamente e com total conhecimento de causa sobre o Universo da música sertaneja. Não sei dizer exatamente se eu fiz parte da música serteneja ou, se ela é que fez parte de mim, durante todo o curso da minha jornada terrena. Obrigado, filho, por estar fazendo algo importante pela preservação deste gênero musical tão puro, e tão esquecido pelos órgãos responsáveis pela defesa das nossas tradições e da nossa Cultura Popular. Orgulho-me de vc, meu filho. Obrigado por compartilhar comigo essa ideia caipira.

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