Sua
História, seus Intérpretes e seus Compositores. *
1/8
Dedicatória
Dedico este trabalho a toda a minha família, em
especial à minha nobre e dedicada esposa Ana Lúcia de Oliveira Nunes que muito
me apoiou na efetivação deste projeto. Também à minha amada mãe Elisângela
Aparecida de Souza pela concretização deste sonho de ver todos os seus filhos
formados. E por fim ao meu querido pai Francisco Ricardo de Souza (Marrequinho), o melhor
ajuntador de versos que conheço, pelos exemplos dados, pelas horas e horas de
conversas e bate papos que muito me auxiliaram na produção desta monografia.
1ª PARTE
INTRODUÇÃO
"...Entre as quatro paredes
Do meu quartinho tão triste
Somente amargura vejo
Somente tristeza existe
A chuva cai ritmada
Fustigando a minha janela
Até o vento parece
Murmurar o nome dela..."
A música “Três noites”, composição de Ubirajara Moreira e Marrequinho,
compositores goianos, interpretada pela dupla mineira Silveira e Silveirinha em
meados dos anos 60, mostra a temática de um amor não realizado, fato muito
comum nas canções populares goianas dos idos anos 50 e 60 do século XX. Mas,
esse trecho nos mostra também a preocupação dos autores em enquadrar sua
composição e estética poética tradicional com versos metrificados e fechamento
de frases rimadas, além de ornamentar a escrita com palavras pouco habituais, mostrando
assim a preocupação em utilizar a língua culta e não a linguagem comumente
falada pelo povo.
No entanto, trata-se de uma letra
escrita por compositores populares sertanejos e goianos em um período em que o
estado de Goiás praticamente não existia no cenário político nacional, tampouco
no cenário cultural do Brasil.
Ora, sendo essa cultura musical denominada
sertaneja oriunda do corredor bandeirante, que abrange o norte do Paraná, o
interior de São Paulo, o sul de Minas Gerais, o centro-sul do estado de Goiás e
o sul de Mato Grosso,
ou seja,
tendo essa música vinda da mesma origem para todos esses estados, ela não
deveria ter as mesmas características em todas essas regiões?
Este foi o principal motivo que me levou a buscar
maiores esclarecimentos sobre o tema proposto: a quase completa falta de
registro documental por parte dos historiadores goianos e também por parte dos
compositores desse período, que não tinham consciência de seu papel histórico
na formação de um movimento artístico/cultural que marcará várias gerações.
É objetivo principal deste trabalho buscar o
entendimento de parte da história cultural do estado de Goiás, ou seja, a
pesquisa trata do que chamarei de “música sertaneja” produzida em Goiás entre
os anos de 1950 a
1970. Produção essa que levará Goiás posteriormente a ser conhecido como o
grande celeiro nacional de músicas, intérpretes e compositores deste estilo.
Para isso, analisaremos a vida e obra do compositor
Marrequinho através da narrativa autobiográfica intitulada: MARREQUINHO - O
Menino de Campo Formoso – Memórias de um artista sertanejo (Editora Kelps / 2010). Onde o autor nos dá um panorama da
vida do cantador sertanejo em Goiás no período em questão.
Ao submetermos a estética da música sertaneja
goiana a conceitos e padrões da música produzida em São Paulo, por exemplo,
estamos deixando de levar em consideração as especificidades da formação
cultural de cada estado, estabelecendo assim uma moldura cultural, pois cada
uma tem suas singularidades, embora tenha similitudes como o fato de ser
cantada em duetos de terças ou de sextas, os mesmos instrumentos, os mesmos
temas. Porém, é valido ressaltar que não se trata aqui de determinar um purismo
cultural referente à música goiana, mostrando-a como estática e impermeável a influências
externas e sim destacar sua importância, características e singularidades na
construção de uma estética musical própria que será responsável por rotular
Goiás como um estado sertanejo, exportando música, cantores e compositores
desse gênero artístico, influenciando consideravelmente os rumos da música
sertaneja nacional.
Durante o período estudado, a maioria das gravações
goianas foram realizadas em
São Paulo, que era o grande polo cultural do país e que
influenciou muito na criação artística goiana. Daí usarmos conceitos externos
para denominarmos a nossa produção, sendo que até bem pouco tempo as pesquisas
acadêmicas acerca deste tema eram todas produzidas fora de Goiás, demonstrando
sempre uma visão unilateral da história da música sertaneja, ou seja, de São
Paulo para cá. O que busco é levantar
questionamentos sobre como Goiás também influenciou nesse cenário artístico,
embora não seja citado nas pesquisas já publicadas a respeito do tema.
Sendo aceita a tese do corredor
bandeirante na formação do ideário popular que deu origem à música sertaneja
como um expoente cultural, por que em nenhuma enciclopédia da música nacional
há citações dos autores e intérpretes goianos desse período, sendo que houve
artistas que se destacaram no cenário nacional? Tais como Miltinho da dupla
Tibagi e Miltinho, Amarai da dupla Belmonte e Amarai, Robertinho da dupla Léo
Canhoto e Robertinho, Duduca da dupla Duduca e Dalvan, Marinheiro da dupla
Caçula e Marinheiro, Praião e Prainha, Lindomar Castilho, que chegou a gravar
discos em espanhol e italiano para atender ao mercado latino, Trio da Vitória
que faz shows pelo Brasil até hoje, devido à repercussão que obteve na época.
Goiás, que é
visto como estado de referência para a música sertaneja nacional, uma espécie
de celeiro de criações de músicas desse gênero, não aparece em nenhum registro
da história da música sertaneja, a não ser como tema muito explorado pelos
paulistas ao citarem os sertões goianos em suas letras. A questão é que o
contexto e a produção cultural sempre foram pensados, vividos e reproduzidos a
partir de São Paulo.
Entretanto ao analisarmos músicas
goianas, percebemos diferenças que vão além da forma poética das letras, há
também diferenças de interpretação (MORAIS, 1980, p. 214) que
marcarão profundamente o estado de Goiás, diferenciando os cantores e
compositores locais dos outros existentes no corredor bandeirante. Essa
diferenciação começará a traçar o rótulo que posteriormente será dado ao estado
de Goiás pela indústria cultural, o de celeiro da música sertaneja.
Para isso, faremos no primeiro
capítulo uma recomposição da origem do universo caipira e de sua formação
cultural que será utilizada posteriormente como modelo para a música que será
produzida na cidade. Bem como uma breve recomposição de fatos históricos que
nos apoiarão na continuação desta pesquisa. E assim entendermos a absorção e a
rejeição da música caipira/sertaneja junto a sociedade entre os anos de 1940 a 1960.
No segundo capítulo iremos levantar
alguns pontos importantes da história da musica sertaneja goiana, acompanhando
a vida do cantor e compositor Marrequinho, um personagem importante dentro do
contexto abordado.
No âmbito desta pesquisa, o
resultado esperado é o estímulo ao debate, de modo particular no meio
acadêmico, com o surgimento de novas inquietações por parte dos historiadores
que estão adentrando em novos espaços, relacionados à história do tempo
presente, período até pouco tempo precariamente enfocado pelos historiadores
mais tradicionais. E assim enriquecer o conhecimento sobre o estado em que
vivemos e a arte que produzimos como meio de fortalecer e valorizar a nossa
produção artística e a nossa cultura*.
1/8
CONTINUA...
[1]
Silveira e
Silveirinha. Melodia da Saudade. Califórnia 1966
* Trecho
extraído da Monografia-tese de Formatura no Curso de História, por Francisco
Ricardo Souza Jr**, na Universidade Federal
de Goiás.
** Francisco Ricardo de Souza Junior {Chico Jr} é filho do
Compositor Marrequinho
A música caipira, sua evolução e
seus diversos segmentos existentes hoje.
Contato com Marrequinho:
É com muito orgulho que vejo meu filho Chico Jr dissertando longamente e com total conhecimento de causa sobre o Universo da música sertaneja. Não sei dizer exatamente se eu fiz parte da música serteneja ou, se ela é que fez parte de mim, durante todo o curso da minha jornada terrena. Obrigado, filho, por estar fazendo algo importante pela preservação deste gênero musical tão puro, e tão esquecido pelos órgãos responsáveis pela defesa das nossas tradições e da nossa Cultura Popular. Orgulho-me de vc, meu filho. Obrigado por compartilhar comigo essa ideia caipira.
ResponderExcluir