segunda-feira, 5 de novembro de 2012

A MÚSICA SERTANEJA DE GOIÁS – 8ª Parte - CONCLUSÃO




MONOGRAFIA-TESE, DE FRANCISCO RICARDO DE SOUZA JR, PARA FORMATURA NO CURSO DE HISTÓRIA, PELA UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS.




Francisco Ricardo de Souza Jr.
           (Chico Junior)

8/8
8ª PARTE - CONCLUSÃO
Ao encerrarmos esse trabalho, registrando traços descritivos da história da música caipira (Raiz) e da música sertaneja (Tronco), paralelamente com a vida e a obra do compositor goiano Marrequinho, tratamos mais especificamente da música sertaneja produzida em Goiás. Notamos que analisando essa expressão artística, aprendemos muito sobre as pessoas que a praticaram, e também, sobre a sociedade que absorve essa arte. Portanto, a música também nos mostra um retrato histórico-sociológico da sociedade, passando assim a possuir um caráter científico que rompe as barreiras da análise meramente musical e teórica.
O principal objetivo deste trabalho foi o da compreensão, ou pelo menos da busca desta, de como no estado de Goiás a produção artística sertaneja saltou as fases inicias da música caipira já iniciando uma produção que classifico como música sertaneja (Tronco). Os compositores e os intérpretes goianos entenderam que, embora devessem respeitar a origem e preservar a autenticidade da música nascida no sertão, precisavam também atender às exigências de mercado que buscava “coisas novas” no terreno musical. Sob a influência das músicas estrangeiras que invadiam o mercado musical brasileiro, nessa época (década de 50 do século XX), os artistas goianos entenderam que precisavam tirar a música sertaneja da bitola que limitava seu consumo (aceitação pública) e travava sua caminhada rumo a uma maior camada de apreciadores, que de certa forma se sentiam incomodados por serem chamados de caipiras.
A maioria dos compositores goianos passou a respeitar as regras gramaticais em suas letras, sua temática foi expandida para que ela não ficasse restrita às coisas do sertão, lugar distante da civilização e tido como atrasado no meio urbano. Alterou-se a fórmula (letra), mas, conservou-se a essência (linhas melódicas). Estas alterações representaram, ao mesmo tempo, avanço e retrocesso no movimento musical sertanejo. Avanço, porque a música foi para mais perto dos que antes sentiam vergonha de serem considerados caipiras. Retrocesso, porque, a música caipira que era (e é) considerada uma das mais puras e genuínas expressões culturais do nosso povo perdeu força e carrega até hoje o seu estigma. Arte/ Arte e Arte/Comércio. Interesses conflitantes, que definiram diferentes objetivos. A arte caipira tentando sobreviver com pouquíssimos recursos, e a música sertaneja completamente ligada às tendências de mercado da indústria cultural. E isso é percebido claramente, ainda hoje, quando, por exemplo, a música caipira não está presente em nenhum grande festival, muito menos nos grandes programas de televisão de veiculação nacional. Ao contrário do que acontece com a música sertaneja, que é um ótimo produto de investimento e de público. Entretanto o músico sertanejo ainda não percebeu a importância de sua arte, e continua vivendo à margem dos movimentos culturais, ligando-se única e exclusivamente ao mercado. Assim, o artista sertanejo deixa de fazer arte, para fazer apenas produto.
Também foi importante entender, neste trabalho, que São Paulo, por possuir condições técnicas de gravação e de prensagem de discos, ficou sendo considerado o único responsável pela expansão da música sertaneja e seu aprimoramento técnico/interpretativo. Mas o que se deve ressaltar é que grande parte da matéria prima usada na construção desse patrimônio foi fornecido por Goiás, através de nossos compositores e de intérpretes.
A prova de que nossa musicalidade foi (e é) fundamental para alicerçamento da música sertaneja como um expoente sócio/cultural e sócio/econômico em nosso país vemos na atualidade, onde, senão toda, a maioria dos grandes nomes que representam o gênero sertanejo e são líderes absolutos na preferência do público e na vendagem de Cd’s e Dvd’s em nível de Brasil são goianos. Cito alguns na ordem de surgimento: Chrystian e Ralf, Leandro e Leonardo, Zezé di Camargo e Luciano, Di Paullo e Paulino, Bruno e Marrone, Guilherme e Santiago, Jorge e Mateus, João Neto e Frederico, dentre outros.
Enfim, esperamos que este trabalho seja útil como registro de um trecho de nossa história, e, que levante novos questionamentos para futuros pesquisadores de nossa cultura, e assim, cada vez mais, nós possamos nos conhecer e nos respeitar através de nossas diferenças e principalmente através de nossas semelhanças.
FIM 
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