segunda-feira, 3 de setembro de 2012

JAGUNÇO – MEU AMIGO CACHORRO *



FATO VERÍDICO
Marrequinho


1ª Parte
  

Jagunço era o nome de um cachorro. Não um cachorro qualquer, era um cachorro especial, diferente.  Nosso encontro foi casual, ou, talvez não tenha sido, sei lá. Certa manhã, quando abri o portão da minha casa, dei de cara com ele. Estava deitado na calçada a uns três ou quatro metros do meu portão. Levei um baita susto porque nunca havia visto um cachorro daquele tamanho. Era realmente um canzarrão, e com cara de mau. Receoso, fiquei parado, quieto, imóvel, porque aquele animal era realmente assustador e poderia ser perigoso.  Seu corpanzil estava estirado de uma forma estranha no cimento frio, e ele mal me olhou com os seus grandes olhos cor de amêndoas. Ao observá-lo, notei que havia alguma coisa de errado com ele. Estava quieto demais para um cachorro daquele porte. Uma de suas patas dianteiras estava dobrada sobre seu corpanzil e eu percebi que sua posição não era normal para um cachorro que estivesse em bom estado de saúde. Ele estava magro, maltratado e demostrava estar muito fraco. Senti pena dele, mas, eu precisava ir para o trabalho, e não podia ficar ali observando aquele animal que eu não sabia a quem pertencia de onde viera e nem porque escolhera aquele lugar para se deitar.
No trabalho, envolvi-me com a rotina diária e não mais me lembrei daquele enorme cachorro. Mas, fiquei surpreso e preocupado, quando ao voltar pra casa para almoçar, lá estava ele, quase na mesma posição e no mesmo lugar onde eu o encontrara de manhã. O sol do meio dia estava escaldante e o cão arquejava, como se lhe faltasse forças para respirar. Está muito doente, pensei. Eu precisava fazer alguma coisa por ele, mas, fazer o que? Seu aspecto de cão feroz me impedia de me aproximar dele para pelo menos tentar ajuda-lo a se arrastar para mais próximo do muro, onde já havia sombra. Tentei ligar para o serviço de zoonose e pedir ajuda, mas, não havia telefone fixo em minha casa e o celular estava acusando “sem serviço”. Resolvi não ir trabalhar naquela tarde, para tentar descobrir o que deveria fazer para resolver aquela inusitada situação.
Estávamos no mês de agosto e sempre ouvi dizer que agosto é mês de cachorro louco (será que isso é verdade?), então achei melhor me precaver e me manter a mim, minha mulher e meus filhos afastados daquele cachorro, por precaução. Mas o que eu não podia era deixa-lo ali, daquele jeito, abandonado a própria sorte. Felizmente a sombra do muro já estava bem próxima de onde ele estava deitado. Então tive a ideia de fazer um teste que me mostraria se havia perigo do cachorro estar contaminado pela raiva. Eu havia lido em algum lugar que a comprovação de que um cão está realmente louco é ver se ele baba constantemente e, além disso, se não consegue beber água. Resolvi fazer o teste. Queria saber se isso era apenas crendice popular ou se seria uma realidade comprovada cientificamente. Precisava esclarecer essa dúvida. Verifiquei que o lugar onde ele estivera deitado por tanto tempo não mostrava sinais de que ele houvesse babado ali. Então, enchi uma pequena vasilha com água, e com muito cuidado e um pouco receoso coloquei a bacia a certa distancia dele e com um cabo de vassoura a empurrei lentamente em sua direção. Ao perceber a movimentação da vasilha, ele me olhou e eu senti que chegara o momento decisivo para saber se ele estava louco ou não. Ao farejar a água que o pequeno recipiente continha, ele fez um tremendo esforço e para minha surpresa e alegria, levantou o enorme focinho e com sofreguidão começou a beber a água que lhe era oferecida. Firmou-se nas patas dianteiras e sua língua buscou até a última gota. Estava om muita sede, o estranho animal que havia novamente se deitado, mas, agora com as duas patas dianteiras estiradas para frente. Ficou me olhando fixamente como que pedindo mais água, mas, eu resolvi dar um tempo antes de repetir a dose. Ele com certeza estava desidratado, era melhor ir tomando líquido aos poucos.
O sol havia avançado um pouco na sua caminhada para o poente e já estava fazendo a sombra do muro chegar até onde o cão se mantinha na expectativa de receber mais um pouco d’água. Uns quinze minutos depois, repeti a manobra e novamente ele bebeu toda a água da vasilha. Ele me olhava fixamente, como se estivesse querendo me dizer alguma coisa. Achei que ele estivesse tentando me agradecer pela água. Eu já não tinha receio de me aproximar dele porque apesar do seu aspecto de mau, seus olhos demonstravam o contrário. Apesar de continuar deitado, já dava sinais de que estava melhorando seja lá do que for que fizera com que ele ficasse prostrado. Balançava a cabeça para espantar os mosquitos que o incomodavam e vez por outra virava a cabeça para olhar alguém que passava no outro lado da rua, isso porque todo mundo evitava passar perto dele, e sempre mudava de calçada quando via aquele baita cachorrão de pelos amarelos, que parecia estar sempre com ar de zangado. Pedi a um dos meus filhos pequenos que trouxesse um pouco da sobra do almoço para ver se ele se interessava em comer alguma coisa. Quando ele farejou a comida que eu aproximei dele numa bandeja de papel, ele imediatamente deu sinal de que estava interessado. De propósito deixei a bandeja a certa distância dele. A um metro e meio mais ou menos. Queria ver sua reação. Ele novamente se apoiou nas suas manoplas dianteiras e com certa dificuldade conseguiu se arrastar até onde estava a comida e deu algumas bocadas na mistura de arroz, feijão e fiapos de carne de vaca. Aí, tive certeza que ele estava se recuperando. O que nunca consegui saber foi como e porque ele chegou a ficar naquele estado de fraqueza. Provavelmente alguma intoxicação alimentar, foi o que pensei.

Fim da 1ª parte

* Ilustração: Cão deitado – Bico de pena – Costa Araújo



















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