sexta-feira, 27 de abril de 2012

MARREQUINHO - O MENINO DE CAMPO FORMOSO











                             MEMÓRIAS DE UM ARTISTA SERTANEJO

                                                      CAPÍTULO XI                         
                         Marreco e Marrequinho Gravam na RCA VICTOR
  
Em 1958. Eu, ainda Braizito, frequentava a pensão da dona Brasilina (Reduto dos Violeiros de Goiás), e cantava com um e com outro, aqui e ali, para tentar aliviar as dificuldades financeiras. Manter o próprio sustento, com a viola, não era coisa fácil. Era uma tarefa difícil. O recurso que eu tinha era apelar para a formação de duplas improvisadas, e conseguir convencer os donos de parques de diversão a nos pagar um irrisório “cachê” para que cantássemos ali no palco que era montado na parte de cima de onde funcionava a bilheteria. Lembro-me que cantei, algumas vezes, até com o Zé do Carro (da dupla, “Palmito e Zé do Carro”), segunda voz tão grave quanto a minha e os recursos financeiros tão minguados quanto os meus. Era uma graça, vê-lo fazendo a primeira voz. Mas, nos virávamos, e, conseguíamos desencavar alguns trocados. O tempo passava, a minha vocação pela arte, não. Havia em mim, ferrenha determinação e inabalável esperança de vencer, cantando. Foi quando conheci José Onofre Leite, o "Marreco", que havia se separado do "Sapezinho", com quem cantara por algum tempo, e estava “caçando” parceiro. Formamos dupla. Larguei o apelido de Braizito e fui “batizado” com o diminutivo de Marreco. A sorte estava lançada; surgia no cenário artístico Goiano, a Dupla do Momento: “Marreco e Marrequinho”.

                                                                                          Acervo Pessoal
Marreco & Marrequinho
                                                                     (1.958)

Marreco tinha uma primeira voz razoável. Timbre até bonito, mas o seu poder de retenção era um pouco limitado, o que fazia com que tivesse uma dificuldade danada para decorar as modas. Levamos algum tempo para formar um repertório com o qual pudéssemos nos apresentar em público. Além disso, era pouco propenso a aceitar os aperfeiçoamentos que a música sertaneja estava tentando alcançar. Trouxe com ele, quando veio do interior, a música caipira formatada em sua mente com pronúncias incorretas, das quais ele jamais conseguiu se livrar. Planalto, ele pronunciava "pranarto". Com muita peleja, consegui fazer com que ele melhorasse um pouco. Só um pouco, porque ele só conseguiu melhorar a pronúncia, para "planarto". Coisas assim. Mas, apesar da sua pouca instrução, ele tinha inegáveis qualidades. Era muito comunicativo, brincalhão mesmo, tinha boa aparência, detalhe valioso para quem se apresenta em público, e, com tudo isso a seu favor, ainda conseguia um feito que me surpreendia. Conseguia ganhar dinheiro, cantando músicas sertanejas, em Goiás. Marreco era filho de fazendeiro. Foi nascido e criado na roça. (Fazenda Curralinho) município de Itaberaí-Go. Conhecia, na prática, os costumes do sertão. Isso facilitava seu entrosamento com pessoas que tinham a mesma origem. Nas festas de fazendas em várias regiões do Estado de Goiás, Marreco e Marrequinho (A Dupla do Momento) era presença obrigatória. O fazendeiro, vaidoso, querendo mostrar prestígio junto aos convidados, encomendava uma moda ‘’fabricada’’ especialmente para a ocasião. Cabia a mim, atender essa encomenda. Era coisa simples.  Geralmente moda de viola, que era complementada, quase sempre com uma dança de catira, executada por catireiros da região, especialmente convidados para o evento, que conseguia grande repercussão. Eu respondia pelo segmento artístico da dupla. O Marreco administrava a área financeira. Até aí, não tínhamos gravado discos. Mas mantínhamos um programa na Rádio clube de Goiânia (a pioneira), chamado Momento Sertanejo. O programa ia ao ar de segunda a sábado, das nove as nove e trinta da manhã.  Nós nos apresentávamos nas terças, nas quintas e nos sábados. Segunda, quarta e sexta, eram de responsabilidade da dupla, Sapezinho e Ditinho e posteriormente, do Trio Enamorado (Colibri, Ninão & Nhozinho). Tempos depois, fizemos um programa também na Rádio Clube, no horário de meio dia ao meio dia e meia. Esse programa foi lançado pelo Fernando Santiago, mineiro, de Ituiutaba, excelente apresentador. Após algum tempo voltou para Minas Gerais e nunca mais ouvi falar nele. “As duplas e Trios sertanejos de Goiás, também faturavam de vez em quando, nas barracas de festas de Igrejas, para dar uma força na ‘‘arrastada” de gente que ali comparecia para prestigiar as "festas dos padres", como nós as chamávamos, e deixar algum ‘’cobre’’ nas barraquinhas da pescaria, dos bingos, dos refrigerantes, etc. Dali, sempre levávamos alguma ‘’ajuda de custo’’. Quase nunca havia contrato assinado. Era tudo na base da confiança.
Nessas alturas, começamos a sentir necessidade de gravar um disco. E como a maioria dos artistas, compunha suas próprias músicas, que por aqui ainda não tinha surgido compositores que produzissem em escala que atendesse a demanda, eu, que sentia uma estranha necessidade de por no papel, versos e trovas que até hoje não sei de onde vem, qual rajada de vento que me atinge de repente, resolvi começar a escrever algumas músicas que pudessem futuramente fazer parte do repertório da nossa dupla. Minha primeira composição, um cururu, chamado NOSSA VERDADE, está no primeiro disco de Marreco e Marrequinho, gravado na RCA VICTOR. Dei parceria para o Marreco, para divulgar ainda mais o nome da dupla, e, entrou de ‘’garupa’’, o Piracy, que se aproveitando da ingenuidade dos dois mocorongos de Goiás, disse que se tivesse o nome dele na música, os programadores de rádio mostrariam maior interesse em rodar o disco. Oportunismo de garupeiros que existiam e existem até hoje, no meio artístico, infelizmente. Na outra face do ‘’78’ está um tango, chamado PASSADO DE UM BOÊMIO, composição minha parceria com Sapezinho e Ditinho. Essa gravação foi acompanhada por um dos sanfoneiros de maior prestígio no rádio brasileiro, de todos os tempos, Mário Zan. Fomos parar lá naquele selo tão importante, graças ao apoio do nosso querido saudoso amigo Goiá. Na RCA, Marreco e Marrequinho gravaram mais dois discos, também 78 R.P.M. TEMPO DE CARREIRO, cururu, composição do Marreco, e TORTURA DO REMORSO, tango, de minha autoria. PARAGUAIA DA FRONTEIRA, Polca Paraguaia, de Goiá e Zilo, e ESTRADA DA AMARGURA, tango, de minha autoria em parceria com o Aldegundes, um compadre meu, lá de Avelinópolis (GO) Esses dois discos tiveram o acompanhamento do exímio sanfoneiro Nardeli, do trio “Nenete, Dorinho & Nardeli”

Éramos muito bem relacionados no meio político de Goiás. Nas épocas de campanha, éramos sempre incluídos como atração nos comícios dos candidatos a cargos eletivos. Os "cachês" variavam, de acordo com o potencial financeiro do candidato. Levávamos alguns "canos", é verdade, mas vivíamos situações gratificantes também. Tivemos a honra e o privilégio de ter participado da campanha do EX-PRESIDENTE Juscelino Kubistchek de Oliveira (J.K.) quando de sua candidatura a Senador, por Goiás. Sempre tive profunda admiração e respeito por aquele que foi um dos maiores estadistas brasileiros, de todos os tempos. Estivemos com ele, em inúmeras ocasiões e até viajamos no mesmo carro e hospedamos no mesmo apartamento de hotel nas cidades onde aconteceriam os comícios. J.K. era chegado numa moda de viola. O homem era mineiro, uai.
A dupla “Marreco e Marrequinho” foi desfeita em 1.961. Um político amigo nosso, ofereceu ao Marreco um emprego na Assembleia Legislativa do Estado de Goiás, e, ele aceitou, é claro.


Marrequinho – Marreco, no lançamento do livro “Marrequinho = O Menino de Campo Formoso”, na residência do escritor Bariani Ortencio em agosto de 2010.

                    Leia os Capítulos anteriores postados neste Blog
      

Contato com Marrequinho:














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