quarta-feira, 4 de abril de 2012

MARREQUINHO O MENINO DE CAMPO FORMOSO - CAPÍTULO VII

 MEMÓRIAS DE UM ARTISTA SERTANEJO


                                                         Capítulo VII

                                             A Iniciação


Havia em Campinas (minha amada Campininha) na Avenida Bahia (hoje, Avenida Alberto Miguel) entre as Ruas Benjamin Constant e Rua Rio Verde, a pensão da dona Brasilina, que era onde muitos Artistas Sertanejos se hospedavam. É que, lá era um ótimo ponto de referência, tinha boa localização e os preços eram no jeito, por ser uma hospedaria muito modesta. A pensão da dona Brasilina era um reduto de caipiras. Era chamada de Pensão dos violeiros e Hotel da caipirada.
 A dona da Pensão mantinha um relacionamento com o violeiro e cantador chamado Brazão. Vindo das Minas Gerais (ele era paulista) com o parceiro Brazinha, para fazer umas cantorias em Goiás, a dupla hospedou-se na citada Pensão, tão conhecida na época. Resumindo o assunto, Brazinha voltou sozinho para Minas Gerais e o Cândido de Paula (Brazão) passou de hóspede para a condição de marido da dona da Pensão. Brazão era um cara um tanto complicado. Nervoso, briguento, falador e, além disso, gostava de engolir uns “tragos”, quando ficava ainda mais enjoado. Mas, nem tudo nele era ruim, tinha seu lado bom. Quando sóbrio, era comunicativo, extrovertido, otimista, competente humorista, violeiro e cantador. Havia gravado com o goiano de Piracanjuba, Marinheiro, e um sanfoneiro lá de Ivolândia (GO), o Vantuil, um disco 78 R.P.M. e uma música desse disco (que tinha duas), chamada "É Chato Gostar", fez um sucesso danado, aqui, em Goiás.
 Só que, o Brazão formava e desmanchava dupla, uma atrás da outra, com naturalidade absoluta. Dava tiro no escuro a torto e a direito para ver no que acertava. Sei que na Pensão da dona Brasilina, a gente encontrava violeiros veteranos de passagem por Goiânia, violeiros amadores e profissionais que eram hóspedes permanentes, e os que ali iam para manter contato com outros que também buscavam um parceiro para tentar a sorte na viola. E foi ali, naquela Pensão, que finalmente consegui fazer a tão sonhada iniciação na confraria dos que queriam se tornar profissionais da viola. Ano, 1957. Aconteceu assim: O Brazão havia se separado do Marinheiro e do Vantuil, e estava, como sempre, ‘’caçando’’ parceiro. Um dia me ouviu cantar uma moda com alguém, da turma que ali frequentava e me convidou para formarmos dupla. Fiquei surpreso e entusiasmado, ao mesmo tempo. Surpreso, porque ele era um veterano, na viola, e muito respeitado no meio artístico de Goiás, e mesmo do Brasil. Entusiasmado, por ter dado de cara com a oportunidade pela qual eu tanto esperei. Iria finalmente, me enturmar com artistas que já haviam conseguido gravar discos e os que tinham programas de rádio. Aceitei o convite dele, na hora, é claro. Começamos a ensaiar imediatamente. Nós dois fazíamos segunda voz e ele teve que se arranjar para fazer a primeira, já que eu não tinha capacidade para tal façanha. Para que não surgissem problemas com o tal Departamento de Registros e Patentes, Brazão sugeriu que eu deixasse de lado o apelido de Chiquinho e adotasse um nome que igualasse com o seu, coisa muito usada na época. E assim, surgiu no cenário da música sertaneja de Goiás, a dupla: “Brazão e Braizito”. Fomos alvos de gozação, para os ‘’corneteiros’’, que existia em quantidade, no meio artístico. Fomos chamados de: A dupla "Pai e Filho", "Avô e Neto", “O Menino e o Velho" e assim por diante. Acontece que o Brazão, que já estava um pouco "maduro’’ e eu com dezessete anos, formávamos uma dupla que realmente não se enquadrava nos padrões da época. E foi cantando com ele, Brazão, que em 1957 fiz a minha tão sonhada estreia, no rádio. Rádio Brasil Central, domingo, de manhã. Auditório lotado. Quanta emoção eu senti. Estava se realizando, o primeiro, dos sonhos do menino de Campo Formoso. Aqueles microfones, aquele auditório, e os aplausos que ouvi após a nossa cantiga, me mostraram algo que eu desconhecia ou talvez não houvesse percebido ainda, por não ter parado para pensar no assunto. Naquele dia descobri a importância da música e o poder da comunicação, na vida das pessoas.   






Leia os capítulos anteriores do livro “Marrequinho – O Menino de Campo Formoso”. Memórias de um artista sertanejo.

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E-mail:           marequinhocomposior@hotmail.com





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