Capítulo XXXVIII
O
"Bar" do Marrequinho
MARREQUINHO - O MENINO DE CAMPO FORMOSO
Memórias de um artista sertanejo
Morávamos
num barracão de três cômodos. Fui autorizado a derrubar a parede do cômodo onde
era o quarto, e assentar uma porta, que dava para a rua, e também a construir
uma pequena área, com vigotas e telhas de amianto, para ali, ser instalado um
pequeno boteco, que seria chamado de: "Bar do Marrequinho". Ideia do
meu irmão Jair e de sua esposa, minha boníssima cunhada Deise. Encarei o
desafio.
Um
pequeno balcão de concreto, duas pequenas prateleiras de parede, uma mesinha
para expor as garrafas de "malditas" um pequeno freezer, para gelar
as "cervas" e umas quatro ou cinco mesinhas de bar, com as
respectivas cadeiras, constituía o patrimônio de móveis e utensílios do meu “estabelecimento
comercial”. Eu ainda mantinha um bom relacionamento com o meio artístico,
sertanejo e esperava que o local pudesse se tornar um ponto de encontro da
turma da viola. A coisa funcionou, em parte. Alguns amigos frequentavam o
boteco, para prestigiar o compositor famoso e ao mesmo tempo colaborar com o
proprietário pobretão, que era a mesma pessoa, eu. Outros iam lá, para explorar
a amizade e a boa vontade do inexperiente botequeiro, que também era eu.
Estávamos morando em apenas dois cômodos do acanhado barraco onde havia sido
instalado o "barzinho" de onde teria que sair o nosso sustento.
Continuávamos
pobres, mas, felizes, muito felizes. É que nossa família havia aumentado, com o
nascimento de uma linda garotinha, Aline, no dia 16 de dezembro de 1.993. Nesta foto a nossa caçulinha estava com um ano e três meses de idade.
Com esposa e dois filhos sob a minha
responsabilidade, me senti acuado, diante da limitação que a vida me impunha.
Mas, com fé inabalável, mantive a calma, esperei. Tinha a firme convicção de
que dias melhores viriam, sentia que alguma coisa iria acontecer, para nos
permitir sair daquela temporária estagnação. E aconteceu. O meu irmão, o Jair
(ele, mais uma vez), que compartilhava comigo a preocupação quanto ao futuro,
meu, da minha jovem esposa e dos filhos que Deus nos confiou. Comprou, pagou e
nos deu de presente, um lote, no Jardim Primavera, setor novo, localizado na
região Noroeste de Goiânia. Chorei de alegria. Pelo presente e pelo gesto nobre
daquele homem que tinha tanta bondade no coração. Maravilha das maravilhas.
Agora, tínhamos por onde começar. Na pior das hipóteses, uma barraca de lona
serviria como abrigo, por algum tempo. Mas, Deus não permitiu que a nossa provação
chegasse a esse ponto.
Selma,
a minha esposa, mãe de dois filhos meus, teve participação efetiva, na busca de
soluções para a nossa crítica situação financeira. Corajosamente propôs-se a
trabalhar de empregada doméstica, para somar recursos, com os quais daríamos
inicio a construção da nova moradia, onde seria o nosso lar.
Fiquei
um pouco constrangido, com sua proposta, mas, como só abríamos o barzinho a
noite, fui obrigado a admitir que com outra fonte de renda, viabilizaríamos
mais rapidamente o início do nosso projeto. E, por quase dois anos, durante o
dia eu desempenhava o papel de babá, para as nossas crianças, enquanto ela se
desdobrava nas lides de doméstica, na casa de uma família que não era a sua. Eu
me orgulhava dela, por ter tido essa determinação. Do minguado recurso que o
boteco produzia, tirávamos o estritamente necessário para o básico do nosso
sustento, e, o restante era somado ao salário da patroa, e, usado na compra de
materiais que seriam usados na construção da casa que já estava construída nos
nossos pensamentos.
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Campo Formoso”
(Memórias de um artista sertanejo)
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