MARREQUINHO – O MENINO DE CAMPO FORMOSO
Memórias de um artista sertanejo.
Capítulo XXXVII
Um Novo
Amor, Pra Curar Velha Saudade
(Publicação Autorizada)
Selma Oliveira
da Silva
Início da década de 90. Um turbilhão
de incertezas invadia minha mente cansada, mas, não esmoreci. Mantive a crença
de que Deus tinha um propósito pra mim, e, que Ele redirecionaria minha vida e
me daria o entendimento necessário para captar Suas determinações. Acredito,
piamente, que Ele determinou o que se segue: Certo dia, na casa de pessoas
amigas, eu estava ouvindo músicas, contidas em Lps antigos. Então, na
interpretação inconfundível, da dupla, Zilo e Zalo (De quem sempre fui um
grande admirador) ouvi a composição do meu Amigo GOIÁ, intitulada: “Magoado Coração”, que retratava
fielmente o meu estado de espírito, naquele momento. Num trecho da letra, o
poeta diz assim: "... Meu magoado
coração/ A paixão é ilusão/ Simples mal da vaidade/ Pra livrar-te dessa dor/ Só
te falta um novo amor/ Pra curar velha saudade".
Eu sabia que quem prescreveu aquela
fórmula ao seu próprio coração, tinha conhecimento de causa. Era especialista,
em matéria de conviver com desastrosos resultados provocados por amores
desencontrados. Resolvi acreditar na sua longa experiência no assunto e seguir
seu conselho.
E nem foi preciso que
eu procurasse um novo amor. Ele cruzou, ou melhor, estacionou em meu caminho,
em forma de uma mulher, triste, sozinha, sofrida, sem perspectivas de vida e
destituída de qualquer vaidade.
Enfrentava grande dificuldade, pra
resolver algumas pendências de certa gravidade, no âmbito pessoal e não tinha
sequer pra onde ir. Todas as portas havia se fechado para ela. Ignorada pela
sua própria família e sem amigos com quem pudesse contar. Essa situação
ocasionava desequilíbrio emocional e consequentemente lhe tirava o ânimo
necessário para continuar vivendo. Então, eu lhe estendi a mão e sugeri:
"Vamos procurar juntos, um caminho. A esperança será a nossa bússola de
orientação".
E lhe disse ainda: "Se
conseguirmos ficar juntos, por um mês que seja, teremos feito companhia, um ao
outro, nesse espaço de tempo. Se não der certo, simplesmente voltaremos ao
ponto de partida e nada teremos perdido, pois, não temos nada mais para
perder". Ela, talvez por não ter outra opção, encarou a proposta.
E, aquela mulher foi para mim, durante
quinze anos, uma esposa exemplar, uma companheira fiel e uma amiga dedicada.
Foi o meu ponto de apoio para superar as decepções sofridas com o primeiro
casamento. Juntos sofremos privações, de bens materiais, dividimos preocupações
com o nosso amanhã, mas encaramos as dificuldades que a vida nos impôs, com fé,
com coragem e com muita confiança. Mas, como não poderia deixar de ser, havia
um pequeno detalhe, inconveniente, que se interpunha entre nós. Ela era mais
nova que eu, exatamente 30 anos. Nasceu no dia 13 de março de 1970. Nada não.
Tocamos a vida pra frente, e, passo a
passo, fomos reestruturando nossa situação material e psicológica. Não tínhamos
recursos financeiros, mesmo assim construímos uma casa modesta, contando apenas
com a ajuda de Deus e de alguns amigos dedicados (Odaés Rosa, Luiz Vinhal, Zé
Machado, meus irmãos Jair e Zé Ricardo, e outros), solidários à nossa causa.
Pelo menos já tínhamos onde morar.
No dia 11 de janeiro de 1.992 nasceu
nosso primeiro filho, Onofre, uma dádiva de Deus, que veio enriquecer nosso
humilde lar e encher de alegria os nossos sofridos corações.
Acervo
pessoal
Onofre
Ricardo de Souza Neto, aos dois anos de idade.
Hoje, com 21
anos e idade, Onofre está na Faculdade cursando BIOMEDICINA.
Com o nascimento daquela criança e a
responsabilidade que o fato acarretou criamos mais ânimo ainda. A realidade,
porem, nos conclamava a encontrar uma solução para o quesito financeiro, para a
manutenção da família, agora aumentada. Felizmente recebi uma proposta de um
meu irmão, o Jair (que Deus o tenha), que mantinha sua tradicional
"Reformadora Corneta", para ir trabalhar com ele. Eu tinha alguma
noção da profissão de marceneiro, herança do tempo em que fui lustrador de
móveis. Na verdade ele não precisava de mais um empregado, simplesmente usou
esse artifício para socorrer o irmão que estava enfrentando dificuldades.
Porém, sua oficina era pequena e não suportaria a carga de gasto extra, com
funcionários. Ele, generosamente dividia comigo o pequeno lucro de todo mês.
Vendo que eu estava sendo mais um estorvo do que um auxílio resolvi mudar o
rumo das coisas, e, arranjar um novo jeito para viver. Fiz o jogo do tudo ou
nada. Vendi a casa onde morávamos que tinha péssima localização num bairro
muito pobre e afastado de tudo, em um vizinho município de Goiânia.
O mano (Jair), que tinha um coração do
tamanho do mundo, possuía uns barracões de aluguel, num imenso lote localizado
na vila São José, em Goiânia, e um deles foi alugado para mim. Mas, só dei
conta de pagar o aluguel por uns dois ou três meses. Depois continuamos morando
lá, por mais um ano, na base do favor. O Jair não está mais conosco, mas, seus
atos de bondade, de fraternidade e de generosidade, mudaram o curso da vida de
muita gente, para sempre. Deus lhe pague irmão, onde você estiver.
Comprei uma Kombi, velha, muito velha
mesmo, e tentei manter umas rotas de venda, de biscoitos caseiros, que me eram
fornecidos por uma panificadora, lá, da vila. Porem, o lucro das vendas mal
dava para a gasolina, que a velha perua bebia que só uma danada. Exerci por
muito pouco tempo, a profissão de vendedor dos tais biscoitos. Tive sorte em
conseguir um comprador para o desgastado veículo. Então, perguntei a Deus: E
agora, Senhor, o que farei?
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