O
BANDEIRANTE DA MÚSICA CAIPIRA
(ALICERCE
DA MÚSICA SERTANEJA)
Aos
não familiarizados com o nome, Cornélio Pires talvez tenha sido a pessoa mais
importante de toda a história na música sertaneja.
Explicando
de forma resumida, Pires, jornalista-escritor-folclorista-empresário e
admirador da música caipira, acreditou que aquelas modas tocadas nos interiores
de São Paulo poderiam ser levadas para outras regiões, onde as pessoas também
se identificariam com o teor das canções.
Após
mais de 20 anos promovendo a música caipira de diversas formas, seja em
apresentações que organizava ou em seus causos publicados baseados na
convivência com artistas do gênero, Pires lançou, em 1929, uma série de discos
com modas de anedotas, os primeiros discos da música sertaneja.
Como
a gravadora Columbia não acreditou no sucesso do projeto, não aceitou investir.
Resultado: Pires bancou 30 mil cópias do próprio bolso e saiu de carro pelo
interior de São Paulo vendendo pessoalmente. Vendeu todas as cópias, mesmo o
toca-discos sendo artigo pouco popular na época.
Com
a repercussão de seu projeto bem sucedido, as gravadoras passaram a se
interessar, e naturalmente o gênero cresceu, fazendo surgir compositores que
escreviam sobre o campo mesmo não tendo tanta vivência assim. Ou seja, a música
caipira passava a ter, ainda que de forma tímida, contornos comerciais. É nessa
época, inclusive, que começa a se utilizar a terminologia “sertanejo” no lugar
de “caipira”.
Créditos:
Discografia de Cornélio Pires
"O
diretor da Colúmbia - representante local da Byington & Company - era o
americano Wallace Downey que mais tarde, em 1931, interessado pelo Brasil,
seria o produtor do filme "Coisas Nossas". Ariowaldo Pires, o saudoso
Capitão Furtado, sobrinho de Cornélio, era o intérprete (falava bem o inglês),
de Downey Cornélio pediu ao sobrinho que lhe encaminhasse a Downey. Mas este só
tratava da fase preliminar dos negócios da gravadora. Encaminhou Cornélio ao
escritório do Dr Alberto Jackson Byington Jr, o proprietário da empresa. Propôs
a gravação de anedotas e de músicas caipiras. Contou o Capitão Furtado ao
pesquisador Abel Cardoso Júnior que registrou no seu livro "Cornélio
Pires, O Primeiro Produtor Independente de discos no Brasil" Fundação
Ubaldino do Amaral, Sorocaba, 1986, que o empresário lhe disse: - Gravarem
discos anedotas e violeiros? Isso é mais uma piada sua".
O
escritor e pesquisador J. L. Ferrete no seu livro "Capitão Furtado - Viola
Caipira ou sertaneja"?, tomando o depoimento de Ariowaldo Pires, registrou
a resposta de Byington: - Não há mercado para isso, não interessa".
Cornélio insistiu. "E se eu gravar por conta própria"? Aí Byington Jr
tentou opor dificuldades: "Bem, nesse caso você teria que comprar mil
discos. “Quero dinheiro á vista, nada de cheque, e se o pagamento não for feito
hoje mesmo, nada feito”. “Era uma forma, note-se, de descarte peremptório ou,
em outras palavras, propostas de quem não quer mesmo fazer negócio”.
"Cornélio
Pires fez com Byington o cálculo de quanto custaria os mil discos e saiu. Foi á
procura de um amigo seu na rua Quinze de Novembro (centro de São Paulo), um tal
de Castro, e pediu-lhe o dinheiro emprestado. Retornou em seguida á sede da
empresa e, entrando na sala de Byington Jr., jogou sobre a mesa deste, um
grande pacote embrulhado em jornal. "O que é isso"?, perguntou-lhe
Byington espantado. "Uai, dinheiro"! Você não queria dinheiro?,
respondeu Cornélio. Byington abriu o pacote e não disfarçou o seu assombro:
"Mas aqui tem muito dinheiro"! "E' que, ao invés de mil discos,
eu quero cinco mil" explicou Cornélio Pires". Meio aturdido, Byington
Jr tentou convencê-lo de que cinco mil era muita coisa, era "uma
loucura". Naquele tempo não se faziam prensagens iniciais em tais
quantidades nem para artistas famosos! Cornélio, porém, foi mais além do
espanto em que deixou o dono da gravadora: "Cinco mil de cada, porque já
no primeiro suplemento vou querer cinco discos diferentes e, portanto são 25
mil discos".
Aqui
há um engano, que quase todos os pesquisadores têm repetido. No primeiro
suplemento saíram 6 discos diferentes. Em vez de 25 mil, foram lançados 30 mil
discos, em Maio de 1929, segundo fontes concretas, prestadas pelo criterioso
pesquisador o professor Nirez. A confusão se faz e é evidente que se faça,
porque em Outubro de 1929, no segundo suplemento, é que Cornélio lançou 5
discos, com também cinco mil de cada, totalizando dessa forma, os 25 mil
discos.
Fez
o pagamento, pegou o recibo, e estabeleceram o seguinte contrato: os 30 mil
discos, da primeira prensagem, teriam uma Série Especial sua, a "Série
Cornélio Pires" partindo do número 20.000, com o selo vermelho, custariam
2 mil réis a mais do que os de Byington, e somente Cornélio poderia vendê-los.
Acertadas as bases, Cornélio viajou a Piracicaba e de lá trouxe á Capital (com
despesa paga) a sua "Turma Caipira", para participar das gravações, com
três músicas.
Em
1927, a gravação elétrica chegava ao Brasil, facilitando as gravações. Não era
mais preciso dar aquele berro, que o folclorista Paixão Cortês, tem mostrado
nas suas palestras, das gravações da Casa A Elétrica, de Savério Leonetti (em
1914) em Porto Alegre. Agora (de 1926 em diante), já se podia gravar com voz
normal.
A
"Turma Caipira de Cornélio Pires"(em sua 1a. fase) era composta por
Arlindo Santtana, Sebastião Ortiz de Camargo (o Sebastiãozinho), Zico Dias,
Ferrinho, Mariano da Silva, Caçula e Olegário José de Godoy (o
Sorocabinha)."
Mas
depois de algumas décadas, a pesquisa e análise de seu segundo biógrafo Macedo
Dantas, em "Cornélio Pires Criação e Riso"-(1976), o qual depois de minuciosamente
apurar, chegou a conclusão de que a discografia mais precisa que obteve por
intermédio do Capitão Furtado, foi a do musicólogo e pesquisador de Fortaleza,
diretor do Museu Cearense de Comunicação, Miguel Ângelo Azevedo (Nirez), uma
relação constante de todos os discos, dos quais falam Joffre Martins Veiga,
Alceu Maynard Araújo e Dr. Oswaldo Estanislau do Amaral. Isto é, há
divergências quanto ao número de discos levantados por eles, por exemplo:
Joffre, menciona 100 ou 110, mas relaciona apenas 16 discos, já Alceu Maynard
Araújo, mencionou em sua palestra, 108, mas relaciona apenas 48, dizendo que
não conseguiu relacionar mais 6 discos, os quais não conseguiu encontrá-los.
Então, certamente temos 48 discos garantidamente catalogados na Colúmbia. Isto
não quer dizer que Cornélio e sua turma Caipira, não gravou os 108 ou 110
discos já ditos por Joffre e Alceu. O que ocorre, ou ocorreu quando das
pesquisas feitas pelos nobres estudiosos do assunto, é que já não encontravam
na época em que pesquisavam ninguém que tivesse todos os discos de Cornélio,
bem como, apesar de todos os esforços feitos por eles, colheram o que foi
possível nos catálogos que ainda encontraram dos discos gravados pela Colúmbia,
o que pode, pelo tempo, não ser a relação definitiva de sua discografia. Uma
coisa é certa, Cornélio gravou apenas para a Colúmbia, para a Odeon, não.
Aliás, Macedo Dantas nem sequer recebeu resposta da carta enviada á Matriz do
Rio.
Por isso, em sua obra "Cornélio
Pires - Criação e Riso"(1976), Macedo Dantas, na página 337, nos
aconselhou na época, para que fôssemos cautelosos e que ficássemos por enquanto
com os discos encontrados, que era e é um serviço notável ao Folclore
Brasileiro. Ninguém está impedido de investir pesquisas sobre o assunto. Podem
os que assim desejarem, a partir de hoje.
Os dados acima,
referentes aos discos lançados por Cornélio Pires, foram coletados no livro
"Turma Caipira Cornélio Pires", da autoria de Israel Lopes, estudioso
do assunto, editado na comemoração dos 70 anos da música sertaneja, em 1999. O
autor diretor do Departamento de Letras do Centro Cultural de São Borja (RS) e
é ligado à vários movimentos culturais gaúchos.
Créditos:
http://www.violatropeira.com.br/
JORGINHO DO SERTÃO
Mariano & Caçula
Autor: Cornélio Pires
Raridade. A primeira gravação sertaneja feita no Brasil - Em 1929
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