terça-feira, 11 de dezembro de 2012

“ENDEREÇO DA FELICIDADE” – A INSPIRAÇÃO – CAPÍTULO XXXIII


                                MARREQUINHO – O MENINO DE CAMPO FORMOSO
                                                  Memórias de um artista sertanejo


                                                                                                                    

                                             Capítulo XXXIII                        
                                                A Inspiração

Admito que, em algumas das minhas composições descrevo acontecimentos vivenciados por mim, em outras, não. Só que quando o compositor está escrevendo uma letra de música, ele, quase sempre, se coloca no lugar daquele que está sendo retratado no tema, e acaba absorvendo as emoções, o estado da alma e os mesmos sentimentos que está “sacudindo” o seu personagem fictício. Essa influência pode durar dias, meses e até anos para sair definitivamente da mente do autor. Chega a sentir, literalmente falando, os efeitos daquela situação, fictícia para ele, mas, que irá coincidir com a realidade de muitos dos que venham a ouvir a gravação. Isso leva o público, algumas vezes, a confundir o compositor e até mesmo os intérpretes, com os personagens e situações descritas pelo autor em suas composições. Quando me tornei caminhoneiro acreditei que estava encerrando definitivamente o meu relacionamento com a música. Eu estava enganado. A inspiração, assim como não pode ser adquirida como um produto, também não pode ser excluída da mente onde ela se hospeda para desenvolver suas atividades. Inspiração é dom, nasce com o individuo. Pode, quando muito, ser ignorada, mas não anulada. Eu havia decidido me separar dela, mas, ela, ao que parece, não estava decidida a se separar de mim. Ninguém sabe de onde ela vem, nem como, e nem porque vem. Chega sutilmente, como que sondando a mente através da qual deseja se manifestar. Se conseguir acesso, aloja-se como se fosse a "dona da casa" e ocupa o cérebro do seu voluntário (ou involuntário) hospedeiro, onde faz brotar as idéias com que são criadas obras de arte, nos seus inúmeros segmentos. Passei dois anos sem compor nada. Mas, estava começando a me sentir sem graça, frustrado, por não ver meu nome impresso no selo de um disco de lançamento recente (na época, claro). Então, pensei: "Vou voltar a escrever, mesmo que seja só por distração. Sou compositor. Se sei usar o que a inspiração me oferece para satisfazer essa minha vontade, por que não fazê-lo?" E comecei exercitar a imaginação, tentando compor alguma coisa que valesse a pena. Então, descobri algo que me surpreendeu. A inspiração não é manipulável. Ela se manifesta quando quer, e, não quando se é convocada. Eu pensava que ela estaria a minha disposição quando eu bem entendesse. Isso não aconteceu. Eu tentava, tentava e não conseguia escrever nada, mas nada mesmo. Então, entreguei os pontos, e admiti ser um mero instrumento que a inspiração usava para produzir as composições musicais, que eu, arrogantemente pensava serem minhas. Chegando a essa decepcionante, mas, esclarecedora conclusão, parei de "forçar a barra", conformei-me com a situação, aceitei a verdade, e, humildemente, me coloquei à disposição para servir de receptor de qualquer manifestação que por ventura a caprichosa inspiração, quisesse algum dia, transmitir, através do meu pensamento. E, ela, felizmente, se manifestou. De maneira imprevisível, como sempre. Aconteceu da seguinte forma: Eu estava voltando de uma viagem de Belém do Pará. Percorria a Belém-Brasília, no trecho entre Miranorte e Paraíso do Norte (Hoje, Paraiso do Tocantins). Estava rompendo o dia, uma brisa morna acariciava meu rosto, direcionada pelo quebra-vento da janela do caminhão. Não estava pensando em nada. Concentrava-me na estrada, ouvindo o rugido contínuo do possante motor. Então, ouvi nitidamente, uma voz, murmurar em meus ouvidos, umas frases que diziam assim: 

"Na casinha verde de número vinte/ Na pequena Rua do Bairro Bonfim/ É onde eu passo momentos felizes/ Com uma pessoa que gosta de mim". 

Levei um susto. Em seguida me lembrei da proposta que eu havia feito para a inspiração e lhe agradeci, comovido, por ela não estar, mais, de mal, comigo. E, novamente, a voz se fez ouvir: 

"Alma sertaneja, coração amigo/ Naquele endereço vive a me esperar/ Ali, eu encontro a felicidade/ Que num agasalho de simplicidade/ Ansiosamente me espera chegar".
  
Aí, fui envolvido pela emoção. Parei o caminhão, desci me ajoelhei e fiz uma prece de agradecimento a Deus, por estar me permitindo ter de volta, o que eu, irresponsávelmente havia tentado afastar de mim: a inspiração. Prossegui viagem, ouvindo frases, até se formarem duas estrofes, com nove versos cada uma. 


"A casinha verde é meu mundo de sonhos/ Na afinidade de dois corações/ Naquele lugar eu encontro refúgio/ Pra esconder das mágoas e desilusões/ Ali, só se fala de coisas bonitas/ Na doce harmonia de amor sem igual/ Ali, me espera uma certa pessoa/ Criatura humilde, tão santa e tão boa/ Que vive tranquila, na ausência do mal".
 
Então, a voz se calou. A quem estaria sendo direcionados esses versos? Quem seria essa pessoa portadora de tantas virtudes e de tanta dedicação a mim? A resposta para estas perguntas, só me foi dada alguns meses depois. Outra vez, voltando de viagem, passando pelo mesmo trecho de estrada, Miranorte/Paraíso do Norte, ao nascer do dia. Dos recônditos da minha alma ou, da minha mente surgiram essas palavras:

"É uma velhinha de cabelos brancos/ De rosto enrugado e andar vacilante/ Que sente nos ombros, o peso da idade/ Porém, não se queixa, nem por um instante/ É minha mãezinha, que ali, eu encontro/ À quem eu dedico o amor mais profundo/ A casinha verde é bastante singela/ Mas, tudo o que amo está dentro dela/ Porque, minha mãe representa o meu mundo".


                                                                                                Acervo Pessoal
                                                           D. Maria Rosa da Piedade
                                                       (Falecida em 1993 aos 87 anos de Idade)
                                                     Mãe do Compositor Marrequinho

Chorei copiosamente, confesso. E, em meio as lágrimas de emoção e de contentamento, minha conturbada mente ainda conseguiu ouvir "a voz" murmurar, sugerindo que o título da composição, fosse “ENDEREÇO DA FELICIDADE”. Não considerei uma sugestão, e sim, uma ordem que obedeci sem titubear.
Chegando a Goiânia, levei a letra ao Odaés Rosa, com quem eu mantinha muita afinidade musical e lhe perguntei se queria musicá-la. Ele aceitou, e sua inspiração o assessorou na criação de uma belíssima melodia. Essa composição foi gravada pelo "Trio Parada Dura" (Creone, Barreirito e Mangabinha) em 1.975 (No LP "Blusa Vermelha") e teve uma tremenda repercussão em todo o Brasil, graças a Deus.
Posteriormente esta música foi regravada por “Di paullo e  Paulino” no CD Marrequinho – Uma Vida, Uma história”.

MARREQUINHO – O MEMINO DE CAMPO FORMOSO
Memórias de um artista sertanejo

                                                 Adquira este livro
                                        R$ 35 - Livre de Frete para Todo o Brasil

Em Goiânia: C/ Chico Junior: – Fone (62) 84585052
C/ Marrequinho: -- Fone (62) 92154931 – 85718138

Contato com Marrequinho:
E-mail:  marrequinhocompositor@hotmail.com


 





Nenhum comentário:

Postar um comentário