segunda-feira, 29 de outubro de 2012

A MÚSICA SERTANEJA DE GOIÁS - 7ª PARTE





Monografia-Tese para Formatura no Curso de História, pela UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS.






Francisco Ricardo de Souza Jr
             (Chico Jr)



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7ª PARTE


                Em 1963 com 23 anos, Marrequinho que tinha fama de bom cantador e bom compositor, percebeu que precisava mais que isso para conseguir colocar dinheiro no bolso, então conseguiu um emprego no Bazar Paulistinha, que tinha como proprietário Waldomiro Bariani Ortêncio, grande promotor da música sertaneja goiana. Com o passar do tempo, Marrequinho passa a ser o homem de confiança do chefe, e foi quem passou a selecionar as duplas que iriam gravar em São Paulo. Uma espécie de “caça talentos”. (SOUZA. 2005, p. 16)

No Bazar, a gente ia por motivos óbvios. Era lá que estava o homem que tinha prestígio suficiente para mandar gravar quem ele quisesse. Waldomiro Bariani Ortêncio. Pioneiro em Goiás, na venda de discos, vitrolas e coisas do gênero, com uma rede de lojas que atendia todo o centro-oeste do Brasil. (p.35)
             
O prestígio de Bariani Ortêncio era tanto junto às gravadoras que, para baratear custos e também fazer uma experiência fora de São Paulo, foi autorizado pela Chantecler a fazer a gravação de um LP (Vinil) usando o único estúdio na época que dava condição para tal empreita. Foi usado o estúdio da Rádio São Francisco de Anápolis. No prefácio do livro Marrequinho – Uma Vida, Uma História (2005), Bariani nos relata essa história no prefácio:

Fizemos um projeto de gravar um long play (LP) com nossas seis principais duplas sertanejas, com o título de Show Sertanejo. Mas como levar tanta gente pra gravar em São Paulo para gravar? Conseguimos a permissão da gravadora Chantecler para gravar por aqui mesmo, caso existisse aparelhagem técnica com qualidade. Quem estava em condições na época, foi a Rádio São Francisco, de Anápolis. E vai o Marrequinho selecionar o pessoal e encher a Kombi do Bazar com os violeiros e seus instrumentos, todos animados, entusiasmados por terem a oportunidade de gravar suas composições. (...) E gravar um LP fora do eixo São Paulo-Rio era utopia. Todos sonhavam, mas ninguém acreditava. (SOUZA. 2005, p. 16)

Participaram deste LP os artistas: Sinval e Dalmy, Adolfinho e Urso Negro, Duo Brasília, Ferreira e Tianinha, Reizão, Zé Rezende e Zanelito, Melrinho, Belguinha e Marrequinho, Nuvem Negra, Correinha e Loló. (Ortêncio, 2005, p. 94)
Cada vez mais voltado para as composições, Marrequinho tentou dupla mais duas vezes, uma delas com Nuvem Negra – Olídio. Com o apoio de Waldomiro Bariani, a dupla durou seis meses após a gravação um compacto com quatro músicas. E com Silvan em 1965, com um LP feito às pressas, como diz Marrequinho: Mas, além do despreparo da dupla, o repertório era bem ruinzinho. O disco foi um fiasco. Decidindo nunca mais cantar: Minha interpretação, tecnicamente era boa, mas, o timbre da minha voz deixava muito a desejar (SOUZA. 2009, p.46). Suas composições estavam cada vez melhores e optou seguir sua carreira nessa direção.
Mas, em um momento inesperado, foi convidado a fazer parte do Trio Vitória, o trio sertanejo mais importante de Goiás, para substituir um integrante. Aceitou, mas acabou constatando o que já tinha percebido anteriormente: “O nosso disco foi um fiasco, era ruim mesmo. A interpretação não convencia, o repertório era fraco, os arranjos eram pobres e as condições técnicas, sofríveis”. (SOUZA. 2009, p.49). E com aquele disco fez sua despedida de intérprete da música sertaneja e passou a ser apenas: Marrequinho, o compositor.
Marrequinho nos apresenta uma importante informação, tendo vivido uma das fases de transição da música sertaneja. As grandes gravadoras iniciam o processo de alteração do estilo no inicio da década de 60.

Mas, na visão (comercial) dos Diretores e Produtores de discos, os veteranos e consagrados intérpretes da época, não apareciam com nada novo, que conseguisse ‘’sacudir’’ os discófilos e abrisse espaço para que a música de origem caipira pudesse atingir maior público, ampliar seu campo, chegar a um maior número de compradores de discos, alargar seus horizontes e conseguir o resultado que garante a permanência de qualquer Empresa, no ramo a que se dedica, ou seja: Lucratividade. A música sertaneja permaneceu em estagnação quase total, até o final da década de 50. (p. 35)

Inovações da música sertaneja foram os gêneros musicais estrangeiros que influenciaram a música sertaneja em Goiás e vieram do Paraguai (chamamé, guarânia e polca paraguaia), do Chile (cueca chilena), da Argentina (tango), de Cuba (bolero e rumba) e do México (huapango, son huasteco e a canção rancheira). (MORAIS, 1980, p. 216)
Marrequinho revela que alguns sertanejos foram duramente criticados por gravarem músicas nesses novos ritmos e por essa tentativa de inovação, mas salienta que esse momento foi muito importante para os cantores goianos. Quando representantes do gênero sertanejo, de São Paulo, estavam ficando sem recursos para criarem coisas novas e as gravadoras exigindo sucessos na praça aconteceu o que foi chamado de: Migração de Intérpretes. (p.16)
Para tanto, era necessário criar duplas que tivessem intérpretes com potencial e interpretações diferenciadas. A música sertaneja nesse momento era bem aceita e tinha mercado garantido nos estados de São Paulo, Minas Gerais e Goiás, mas o apelo das gravadoras é que ela fosse mais longe e atingisse outras regiões do país.
Assim, os cantores goianos começaram a buscar a sorte em São Paulo, onde a música sertaneja já era bastante difundida. Como o setor fonográfico precisava de novidades para alavancar o cenário musical, os artistas goianos acharam campo fértil para suas interpretações, Marrequinho cita alguns cantores goianos que tiveram renome nacional fazendo dupla com cantores paulistas:  Marinheiro (dupla com Caçula), Miltinho (dupla com Tibagi), Duduca (dupla com Dalvan), a Dupla 2 Goianos – Durval e Davi, Robertinho (dupla com Léo Canhoto), Amarai (dupla com Belmonte) e ainda os cantores solos – Amado Batista e Lindomar Castilho.
Os que investiram na mudança conquistaram seu espaço e a música sertaneja conseguiu ser conhecida e ouvida por todo Brasil

Nas décadas de 50/60, a música castelhana conquistou um público considerável, no Brasil, através de intérpretes como: MIGUEL ACEVES MEJIA, LIBERTAD LA MARQUE, CUCO SANCHES, TRIO LOS PANCHOS, TRIO CRISTAL, PEDRO VARGAS e outros. Os novos valores (alguns veteranos também) souberam tirar proveito disso. Deitaram e rolaram, em cima dos cancioneiros mexicano e paraguaio, principalmente, regravando músicas que foram sucesso, lá e aqui. (p. 37)

                A quantidade de artistas sertanejos, em Goiás, era muito grande, mas os que acreditaram na possibilidade de se tornarem auto-suficientes pela viola, com exceção dos que foram buscar a sorte em São Paulo, foram poucos.  A prova disso é que uma pequena parcela de duplas e trios tiveram condições de manter um programa seu no rádio. A maioria das duplas aproveitavam as “chances” oferecidas por algumas emissoras, quase em forma de favor, os que na realidade eram os responsáveis pela audiência dos programas não tinham participantes fixos.
            E os artistas goianos que não conseguiram recursos necessários para sobrevivência pela música, tiveram oportunidades de se tornarem apresentadores de rádio;

Dizem que santo de casa não faz milagres, não concordo. E explico por que. Existem dois radialistas, dois profissionais na verdadeira acepção da palavra, dois ícones no segmento de apresentação de programas sertanejos, em Goiás, que são, na realidade, dois dos maiores exemplos de responsabilidade, competência, perseverança e dedicação pelo que fazem, há mais de meio século. E são goianos, se não são, não importa, pois os consideramos conterrâneos nossos. Estou me referindo ao "CLAUDINO DA SILVEIRA" e ao "ZÉ CASTRO" da Rádio Difusora de Goiânia e Rádio Anhanguera. (p. 59)

            Marrequinho aos 29 anos se viu desencantado com a arte, tinha conquistado a fama, mas não tinha conquistado a independência financeira, no fim conquistou um emprego de motorista, onde trabalhou por vinte anos.
Assim a música sertaneja em Goiás começou despretensiosamente com pessoas simples, desprovidas de qualquer conhecimento no assunto, que cantavam pela vontade de cantar, sem a pretensão dos grandes públicos ou dos grandes palcos. Eram duplas improvisadas, cantavam em circos, praças e parques de diversões, a platéia era sempre empolgada, pequenos públicos que gostavam de prestigiar os cantores locais. Esses cantores, na maioria das vezes irmãos, parentes ou amigos que cantavam pelo prazer de fazer música, cantar e compor suas próprias canções, angústias, desilusões amorosas, tudo era motivo para cantar ou fazer uma canção.
Com Marrequinho não foi diferente, correu atrás do seu sonho de cantar, gravou discos e contribuiu para a música sertaneja goiana através de suas composições que ganharam grandes intérpretes e gravações em grandes gravadoras.

7ª PARTE
Continua....

CONTATO COM CHICO JR: (62) 84585052
E-mail: cantorchicojunior@gmail.com

CONTATO COM MARREQUINHO:
E-mail: marrequinhocompositor@hotmail.com
 


 

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