Monografia-Tese para Formatura no Curso de História, pela UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS.
Francisco Ricardo de Souza Jr
(Chico Jr)
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7ª PARTE
Em 1963
com 23 anos, Marrequinho que tinha fama de bom cantador e bom compositor,
percebeu que precisava mais que isso para conseguir colocar dinheiro no bolso,
então conseguiu um emprego no Bazar Paulistinha, que tinha como proprietário Waldomiro Bariani Ortêncio, grande
promotor da música sertaneja goiana. Com o passar do tempo, Marrequinho passa a
ser o homem de confiança do chefe, e foi quem passou a selecionar as duplas que
iriam gravar em São
Paulo. Uma espécie de “caça talentos”. (SOUZA. 2005, p. 16)
No
Bazar, a gente ia por motivos óbvios. Era lá que estava o homem que tinha
prestígio suficiente para mandar gravar quem ele quisesse. Waldomiro Bariani
Ortêncio. Pioneiro em Goiás, na venda de discos, vitrolas e coisas do gênero,
com uma rede de lojas que atendia todo o centro-oeste do Brasil. (p.35)
O prestígio de Bariani Ortêncio era tanto junto às gravadoras
que, para baratear custos e também fazer uma experiência fora de São Paulo, foi
autorizado pela Chantecler a fazer a gravação de um LP (Vinil) usando o único estúdio
na época que dava condição para tal empreita. Foi usado o estúdio da Rádio São
Francisco de Anápolis. No prefácio do livro Marrequinho – Uma Vida, Uma
História (2005), Bariani nos relata essa história no prefácio:
Fizemos um projeto de gravar um long play (LP) com nossas
seis principais duplas sertanejas, com o título de Show Sertanejo. Mas como levar tanta gente pra gravar em São Paulo
para gravar? Conseguimos a permissão da gravadora Chantecler para gravar por
aqui mesmo, caso existisse aparelhagem técnica com qualidade. Quem estava em
condições na época, foi a Rádio São Francisco, de Anápolis. E vai o Marrequinho
selecionar o pessoal e encher a Kombi do Bazar com os violeiros e seus
instrumentos, todos animados, entusiasmados por terem a oportunidade de gravar
suas composições. (...) E gravar um LP fora do eixo São Paulo-Rio era utopia.
Todos sonhavam, mas ninguém acreditava. (SOUZA. 2005, p. 16)
Participaram deste LP os artistas: Sinval e Dalmy, Adolfinho
e Urso Negro, Duo Brasília, Ferreira e Tianinha, Reizão, Zé Rezende e Zanelito,
Melrinho, Belguinha e Marrequinho, Nuvem Negra, Correinha e Loló. (Ortêncio,
2005, p. 94)
Cada vez mais voltado para as composições, Marrequinho tentou
dupla mais duas vezes, uma delas com Nuvem Negra – Olídio. Com o apoio de Waldomiro Bariani, a dupla durou seis meses após a gravação
um compacto com quatro músicas. E com Silvan em 1965, com um LP feito às
pressas, como diz Marrequinho: Mas, além do despreparo da dupla, o repertório
era bem ruinzinho. O disco foi um fiasco. Decidindo nunca mais cantar: Minha
interpretação, tecnicamente era boa, mas, o timbre da minha voz deixava muito a
desejar (SOUZA. 2009, p.46). Suas composições estavam cada vez melhores e optou
seguir sua carreira nessa direção.
Mas, em um momento inesperado, foi convidado a fazer parte do
Trio Vitória, o trio sertanejo mais importante de Goiás, para substituir um
integrante. Aceitou, mas acabou constatando o que já tinha percebido
anteriormente: “O
nosso disco foi um fiasco, era ruim mesmo. A interpretação não convencia, o
repertório era fraco, os arranjos eram pobres e as condições técnicas,
sofríveis”. (SOUZA. 2009, p.49). E com aquele disco fez sua despedida de intérprete
da música sertaneja e passou a ser apenas: Marrequinho, o compositor.
Marrequinho nos apresenta uma importante informação, tendo vivido
uma das fases de transição da música sertaneja. As grandes gravadoras iniciam o
processo de alteração do estilo no inicio da década de 60.
Mas,
na visão (comercial) dos Diretores e Produtores de discos, os veteranos e
consagrados intérpretes da época, não apareciam com nada novo, que conseguisse
‘’sacudir’’ os discófilos e abrisse espaço para que a música de origem caipira
pudesse atingir maior público, ampliar seu campo, chegar a um maior número de
compradores de discos, alargar seus horizontes e conseguir o resultado que
garante a permanência de qualquer Empresa, no ramo a que se dedica, ou seja:
Lucratividade. A música sertaneja permaneceu em estagnação quase total, até o
final da década de 50. (p. 35)
Inovações da música sertaneja foram os gêneros musicais
estrangeiros que influenciaram a música sertaneja em Goiás e vieram do Paraguai
(chamamé, guarânia e polca paraguaia), do Chile (cueca chilena), da Argentina
(tango), de Cuba (bolero e rumba) e do México (huapango, son huasteco e a
canção rancheira). (MORAIS, 1980, p. 216)
Marrequinho revela que alguns sertanejos foram duramente
criticados por gravarem músicas nesses novos ritmos e por essa tentativa de
inovação, mas salienta que esse momento foi muito importante para os cantores
goianos. Quando
representantes do gênero sertanejo, de São Paulo, estavam ficando sem recursos
para criarem coisas novas e as gravadoras exigindo sucessos na praça aconteceu
o que foi chamado de: Migração de Intérpretes. (p.16)
Para tanto, era necessário criar duplas que tivessem intérpretes
com potencial e interpretações diferenciadas. A música sertaneja nesse momento
era bem aceita e tinha mercado garantido nos estados de São Paulo, Minas Gerais
e Goiás, mas o apelo das gravadoras é que ela fosse mais longe e atingisse
outras regiões do país.
Assim, os cantores goianos começaram a buscar a sorte em São Paulo, onde a música
sertaneja já era bastante difundida. Como o setor fonográfico precisava de
novidades para alavancar o cenário musical, os artistas goianos acharam campo
fértil para suas interpretações, Marrequinho cita alguns cantores goianos que
tiveram renome nacional fazendo dupla com cantores paulistas: Marinheiro (dupla com Caçula), Miltinho
(dupla com Tibagi), Duduca (dupla com Dalvan), a Dupla 2 Goianos – Durval e
Davi, Robertinho (dupla com Léo Canhoto), Amarai (dupla com Belmonte) e ainda
os cantores solos – Amado Batista e Lindomar Castilho.
Os que investiram na mudança conquistaram seu espaço e a
música sertaneja conseguiu ser conhecida e ouvida por todo Brasil
Nas décadas de 50/60, a música castelhana conquistou um
público considerável, no Brasil, através de intérpretes como: MIGUEL ACEVES
MEJIA, LIBERTAD LA MARQUE,
CUCO SANCHES, TRIO LOS PANCHOS, TRIO CRISTAL, PEDRO VARGAS e outros. Os novos
valores (alguns veteranos também) souberam tirar proveito disso. Deitaram e
rolaram, em cima dos cancioneiros mexicano e paraguaio, principalmente,
regravando músicas que foram sucesso, lá e aqui. (p. 37)
A quantidade de artistas sertanejos,
em Goiás, era muito grande, mas os que acreditaram na possibilidade de se tornarem
auto-suficientes pela viola, com exceção dos que foram buscar a sorte em São Paulo, foram
poucos. A prova disso é que uma pequena
parcela de duplas e trios tiveram condições de manter um programa seu no rádio.
A maioria das duplas aproveitavam as “chances” oferecidas por algumas
emissoras, quase em forma de favor, os que na realidade eram os responsáveis
pela audiência dos programas não tinham participantes fixos.
E os artistas goianos que não
conseguiram recursos necessários para sobrevivência pela música, tiveram
oportunidades de se tornarem apresentadores de rádio;
Dizem
que santo de casa não faz milagres, não concordo. E explico por que. Existem
dois radialistas, dois profissionais na verdadeira acepção da palavra, dois
ícones no segmento de apresentação de programas sertanejos, em Goiás, que são,
na realidade, dois dos maiores exemplos de responsabilidade, competência,
perseverança e dedicação pelo que fazem, há mais de meio século. E são goianos,
se não são, não importa, pois os consideramos conterrâneos nossos. Estou me
referindo ao "CLAUDINO DA
SILVEIRA" e ao "ZÉ
CASTRO" da Rádio Difusora de
Goiânia e Rádio Anhanguera. (p.
59)
Marrequinho aos 29 anos se viu desencantado com a arte,
tinha conquistado a fama, mas não tinha conquistado a independência financeira,
no fim conquistou um emprego de motorista, onde trabalhou por vinte anos.
Assim
a música sertaneja em Goiás começou despretensiosamente com pessoas simples,
desprovidas de qualquer conhecimento no assunto, que cantavam pela vontade de
cantar, sem a pretensão dos grandes públicos ou dos grandes palcos. Eram duplas
improvisadas, cantavam em circos, praças e parques de diversões, a platéia era
sempre empolgada, pequenos públicos que gostavam de prestigiar os cantores
locais. Esses cantores, na maioria das vezes irmãos, parentes ou amigos que
cantavam pelo prazer de fazer música, cantar e compor suas próprias canções,
angústias, desilusões amorosas, tudo era motivo para cantar ou fazer uma
canção.
Com
Marrequinho não foi diferente, correu atrás do seu sonho de cantar, gravou
discos e contribuiu para a música sertaneja goiana através de suas composições
que ganharam grandes intérpretes e gravações em grandes gravadoras.
7ª PARTE
Continua....
CONTATO
COM CHICO JR: (62) 84585052
E-mail: cantorchicojunior@gmail.com
CONTATO
COM MARREQUINHO:
E-mail: marrequinhocompositor@hotmail.com
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