Francisco Ricardo de Souza Jr
(Chico Jr)
4ª PARTE
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As influências externas
No final dos anos trinta nota-se, na
produção artística nacional, o início da influência de guarânias e polcas
paraguaias, tangos argentinos, canções rancheiras mexicanas, em geral da música
hispano-americana, pois nossos artistas “começaram as viagens ao exterior, aos
países vizinhos, e o contato com sua música traria novos ingredientes ao caldo
sertanejo. [...] Raul Torres foi ao Paraguai em 1935 e reivindicou a introdução
dos rasqueados e das guarânias na música sertaneja” (NEPOMUCENO, 1999, p. 123).
Estas músicas foram adaptadas à música sertaneja, que estilizou sua
interpretação aos padrões das músicas estrangeiras, fazendo novas letras e
construindo um novo cenário artístico que se consolida definitivamente nas
cidades dos anos 40. Período esse que lançou dupla como Raul Torres e
Florêncio, Zé Carreiro e Carreirinho, além de programas de rádio nas principais
emissoras (Radio Record, Tupi, Bandeirantes e Nacional de São Paulo) exclusivos
para tocar a nova música sertaneja com radialistas que marcaram época como o
próprio Raul Torres, Capitão Furtado, Capitão Barduino.
Enfim, findavam-se os anos 30, talvez
os mais conturbados da vida da jovem república, e que trouxe como conseqüência
uma mudança geo-politica no Brasil. “Com
a derrocada da oligarquia rural muitas fazendas entraram em decadência,
especialmente as de café. Contingentes passaram a migrar para os grandes
centros, a capital federal ou São Paulo” (SOUSA, 2005, p. 114) que eram os
pólos econômicos brasileiros e que, portanto poderiam receber os sertanejos que
buscavam melhores condições de vida.
Os anos quarenta marcam a consolidação
da música sertaneja no Brasil. As caravanas de artistas seguiam rumo ao
interior para promover shows em circos de tourada, quermesses, palanques,
auditórios de cinema, enfim qualquer espaço em que pudessem fazer suas
apresentações e ganhar algum trocado, muitas vezes necessários para a volta
para casa. Na direção de Goiás, Mato Grosso e Paraguai seguia a caravana do
Capitão Furtado, Mario Zan e Nhô Pai, nomes esses que serão muito citados pelos
precursores da música sertaneja do estado de Goiás.
As gravadoras intensificam a busca por
novos ídolos sertanejos, visto que “dos 41 milhões de habitantes do país, 28
ainda viviam longe das cidades; a roça era, portanto o grande celeiro de gente
que cantava, tocava e fazia humor” (NEPOMUCENO, 1999, p.126). Nesse sentido, a
música sertaneja serviu para formar o interesse cultural das cidades sobre o sertão
distante e esquecido, pois de lá poderiam surgir novas fontes de riqueza
através da música.
Outro marco dos anos 40 é o
crescimento da música sertaneja com temas românticos sobre relações amorosas.
As mulheres passam a ser exaltadas como objeto de desejo pelos compositores,
tornando-se as musas de poesias e canções. Nomes como Moacir dos Santos, Lourival
dos Santos, Anacleto Rosas Junior, Zé Fortuna e Teddy Vieira vão se destacar no
meio como compositores, consolidando a carreira de muitas duplas com suas
músicas.
Foi nesse período que surgiu um
personagem de grande importância para a música sertaneja de raiz goiana,
Palmeira, codinome de Diogo Mulero (1918-1967). Começou fazendo dupla com
Piracicabano (depois Piraci) em 1941, depois com Luisinho e por fim com Biá,
formando a dupla Palmeira e Biá, a qual teve maior reconhecimento,
principalmente depois da gravação de “Boneca Cobiçada” (de Biá e Bolinha)
sucesso de 1956. Mas a importância de Palmeira para a música goiana é que,
devido ao seu sucesso, nos anos 50 ele iria ocupar o cargo de diretor artístico
da gravadora RCA Victor (E posteriormante da Gravadora Continental). Estes selos foram responsáveis pelo lançamento, ainda na década de
50, de muitas duplas goianas, dentre elas a dupla Marreco e Marrequinho (RCA)
conforme veremos no capítulo a seguir.
Depois da ida de Raul Torres ao
Paraguai em 1935, foi a vez de Mário Zan, Capitão Furtado e sua comitiva ter
contato com a cultura paraguaia em 1943. A partir de então, muda de vez a feição
da antiga música caipira com seus ritmos roceiros passando a adotar ritmos e
modelos de interpretação hispano-americanos, mais aceitáveis no meio urbano,
principalmente devido ao sucesso que cantores e grupos latinos faziam no
Brasil. Depois dessa viagem, Mario Zan escreve diversas canções inspiradas na
cultura dessa região, dentre eles destaca-se Chalana, rasqueado composto com
Arlindo Pinto.
Outro fator que Mario Zan ajudou a
consolidar na música sertaneja foi o uso da sanfona. “Trazida por italianos,
popularizava valsas, mazurcas, tangos e polcas dançados nos salões
aristocráticos do país, no século XIX” (NEPOMUCENO, 1999, p.134), mas foi incorporada
à música sertaneja e à música nordestina que ganhou popularidade. O exemplo
disso são os trios que passam a ser formandos a partir de então, quase abalando
o estereótipo referencial da música sertaneja que é a dupla.
Agora nada se compara, na história da
música sertaneja, ao surgimento dos Irmãos Peres em 1943. Estes, que ficariam
melhor conhecidos em 1945, ano do lançamento do seu primeiro disco, como Tonico
e Tinoco, nome dado por Capitão Furtado que achava irmãos Peres muito espanhol
para uma dupla sertaneja. A dupla se tornaria o grande referencial da música sertaneja.
Primeiro pelo estilo de cantar - a primeira voz de Tinoco era muito aguda
forçando a segunda voz a cantar alto também - modificando assim os padrões de
interpretação em tons medianos. “Se antes deles as duplas imitavam Torres e
Florêncio, que fizeram escolas com suas vozes médias, depois apareceram
centenas imitando o estilo dos irmãos com suas vozes agudas” (NEPOMUCENO, 1999,
p.136). O interessante é que Tonico e Tinoco não imitavam ninguém, eram
autênticos, e em segundo lugar, se tornariam marcos pela solidez da dupla.
Poderiam até ter divergências, mas que não se separaram até o falecimento de
Tonico em 1998. Era comum no período que as duplas não tivessem solidez, na
menor divergência, principalmente por dinheiro, se desfaziam. Os Irmãos Peres
talvez inaugurem um outro modelo que será muito utilizado na música sertaneja
da posteridade, as duplas formadas por irmãos, que além dos laços profissionais
que os unem, se mantém pelos laços afetivos e familiares que os impedem de
romperem as duplas.
Estava institucionalizada no meio
artístico sertanejo a dupla como modelo de grupo artístico. Composta por duas
violas, ou uma viola e um violão, deve ter sua origem nos puxadores de catiras
ou mesmo nos desafios promovidos ainda na roça pelos violeiros. Ou até mesmo
num acordo de compadres, que pela timidez só se apresentaria se o outro topasse
a empreitada. O canto duetado é feito normalmente em terças, que significa uma
voz cantando em dó maior e a outra em mi maior, por exemplo, mas há também
outras opções de duetos com tons menores ou em sextas. A tonalidade de
voz é normalmente de tenores ou tenorinos, com o uso do vibrato vocal muito
utilizado pelos cantores populares da época.
Na passagem dos anos 40 para os anos
50 foi fundado pela Rádio Nacional um movimento de nacionalização do
regionalismo. “A programação da Nacional podia agradar a todos os brasileiros,
pois conseguia amalgamar num estilo padronizado as diversas tendências
musicais, desfazendo regionalismos e transformando-os em ‘brasileirismos’” (SOUSA,
2005, p. 130). Foi nesse contexto que a música nordestina, através de seu
principal representante Luis Gonzaga, obteve grande destaque no cenário
nacional, que lançou moda ao passar a fazer suas apresentações com figurino
típico do cangaceiro nordestino. Apareceram também artistas como o acordeonista
Pedro Raimundo, vestido com roupas típicas do Sul. Então a caracterização dos
regionalismos deixa de ser exclusiva do caipira paulista. “Assim a política de
integração social [...] foi reforçada: aos caipiras paulistanos e aos sambistas
cariocas, juntavam-se sanfoneiros do Sul e do Nordeste” (SOUSA, 2005, p.133).
A década de 50 representa o ápice da
música sertaneja raiz. Fomentada pelo crescimento das cidades que era
impulsionado pelo investimento em indústrias de base, siderúrgica, petroquímica
e automobilística, a modernização pela qual passava o país continuava
empurrando o caipira para as cidades, onde não faltava trabalho para aqueles
que trocavam as enxadas pelas picaretas e passavam a receber salários mensais.
Isto representava para eles uma melhoria já que, desde 1929, a vida no campo
estava em crise, seja pelo excesso de produção de café na década de 30, seja
pela modernização da tecnologia rural em relação ao plantio e colheita,
cortando mão-de-obra na década de 50.
O que estes caipiras não sabiam é que
viveriam à margem da sociedade de qualquer maneira, seja na roça, seja na
cidade. Mas, para a indústria do disco brasileira, essa migração para as
cidades era ótima, pois aumentava o público consumidor, e assim cristalizava a
música sertaneja de raiz junto à cultura popular. Os artistas sertanejos
gozavam de grande prestígio “pisando os mesmo tapetes vermelhos estendidos a
artistas de outros gêneros. Dalva de Oliveira, Ângela Maria, Cauby Peixoto,
Nelson Gonçalves, Tonico e Tinoco: todos estavam no mesmo nível, na condição de
astros populares” (NEPOMUCENO, 1999, p.140) e cada vez mais, a música caipira
se distanciava da música sertaneja que passou a adotar o sotaque e os trejeitos
urbanos.
Então, nesse período teremos um cisma
definitivo aonde a música caipira ou sertaneja raiz se romperá da música
sertaneja. Logo a música caipira ou sertaneja de raiz será aquela que manterá
os traços e características do interiorano, seja no linguajar, seja nos trajes,
seja na música com ritmos tradicionais como o Cururu, o Cateretê e nos temas
bucólicos do sertão. Já a música sertaneja estará diretamente ligada à vida na
cidade e as modernizações trazidos pela a indústria cultural que se formava no
Brasil. A música sertaneja então se ligará a movimentos culturais e rítmicos de
diversos lugares.
Esse período de glória representou
também o momento de maior hibridação da música sertaneja, com misturas hispano-americanas
através de guarânias, rasqueados e polcas paraguaias, tangos argentinos,
canções rancheiras mexicanas, country norte-americano, que através dos
programas de auditórios, ainda nas rádios, conquistavam muitos fãs e adeptos.
Essa tendência em empregar os padrões das músicas norte-americanas e latinas,
foi fortalecido pela “política de Boa Vizinhança entre o Brasil e os Estados
Unidos, o que forjou um certo pan-americanismo [...] o que intensificou o
intercâmbio cultural entre os países americanos” (SOUSA, 2005, p. 130). Um
exemplo foi à meteórica carreira de Bob Nelson, que acaipirou a música country
americana, e embora não tenha gravado nenhuma moda de viola, se apropriou do
rótulo sertanejo. Então a música caipira, que já nasce híbrida, muda de nome para
música sertaneja e recebe ainda mais novos temperos originando muitas misturas
que não pararam por aí.
Novas gravadoras passaram a atuar no
mercado e todas elas tinham que explorar esse filão muito lucrativo do mercado:
A Columbia, que em 1943
passara a ser representada, no Brasil pela Odeon, voltou a gravar aqui em 1953
(mais tarde se transformaria na CBS e na Sony). Ao perder a representação
Byington aproveitara sua infra-estrutura e lançara a Continental. Em 1950
Braguinha deixou a direção artística dessa gravadora para criar a Todamérica. A
Chantecler foi criada em 1958 pela empresa Cássio Muniz, que representava os
produtos RCA-Victor, General Motors e os aviões Cesna. (NEPOMUCENO, 1999,
p.143)
Artistas apareciam de todos os cantos.
Do interior paulista, de Minas Gerais e começam a surgir, na década de 50 as
duplas goianas, motivadas por essa facilidade na gravação de discos, conforme
veremos no capítulo a seguir.
Os anos 50 foram muito frutíferos no
que tange à música caipira. Grandes nomes se fizeram nesse período. Palmeira e
Luisinho, Luisinho e Limeira, Palmeira e Biá, Jacó e Jacozinho, Silveira e
Barrinha, Praião e Prainha, Zé Betio, Bob Nelson, Vieira e Vieirinha (que
trouxeram novamente a catira que estava desaparecida do cenário sertanejo),
Zico e Zeca, Zilo e Zalo, Zé Carreiro e Carreirinho, Moreno e Moreninho, Pedro
Bento e Zé da Estrada (lançaram estilo ao cantar influenciados pelas rancheiras
mexicanas e pelo grande ídolo da época Miguel Aceves Mejia, vestidos como
Mariachis), Nenete e Dorinho, Cascatinha e Inhana que tiveram a primeira grande
vendagem de discos sertanejos depois da tiragem astronômica de Cornélio Pires. Cascatinha
e Inhana através do sucesso que foi a música Índia em suas vozes foram
prensados 500 mil discos e devido ao seu estilo clássico não ficaram restritos
às rádios sertanejas.
Mas o grande nome surgido nessa década
foi sem dúvida Tião Carreiro, que com seu parceiro mais conhecido Pardinho,
cantou epopéias sertanejas contando temas sociais e épicos sobre o sertão.
Amparado por compositores como Moacir dos Santos, Lourival dos Santos e Teddy
Vieira, Tião Carreiro e Pardinho também lançaram estilo com o pagode caipira,
um ritmo até então inexistente no meio sertanejo. Tião Carreiro compôs e gravou
com Carreirinho, a música “Pagode”, que “na linguagem do caipira urbanizado
[...] era festa no fundo de quintal” (SOUSA, 2005, p. 150). Esta foi composta
ainda por pura intuição musical de seus autores, sem nenhuma intenção
comercial.
É interessante como nesse período o
sertão ainda era cantado como algo inóspito, distante das cidades, onde
aconteciam os mais diversos fatos que não eram comuns às cidades. E nesse ponto
Goiás passa a ser muito citado em composições que mencionam viagem de
estradeiros ao sertão, como em “Chico
Mineiro” onde o personagem principal da canção estava em uma viagem com
destino a Goiás quando é assassinado no caminho, ou em “Travessia do Araguaia” onde o boiadeiro mais experiente tem que
jogar um boi velho nas águas do rio para que as piranhas o comam enquanto ele
atravessa com a boiada. Ou em música como “Pagode
em Brasília”, de Lourival dos Santos e Teddy Vieira, interpretada por Tião
Carreiro e Pardinho em 1959 que diz:
No
estado de Goiás
meu
pagode está mandando.
O
bazar do Waldomiro
em
Brasília é o soberano.
O
repique da viola
balanceia
o chão goiano
Vou
fazer a retirada
e despedir dos paulistanos
adeus
que eu já vou-me embora
que
Goiás tá me chamando[1]
[1] Tião
Carreiro e Pardinho. O Rei do Gado. Chantecler: 1960
Canções como essas vão construindo a
curiosidade da indústria fonográfica paulista sobre a música e os mitos do
sertão goiano. Em contrapartida, os artistas de Goiás começam a aparecer no
meio artístico nacional, ainda com pouca expressão é claro, mas com uma
vivência cultural que irá influenciar toda a música sertaneja da posteridade.
No final da década de 50 o Brasil já
estava praticamente dividido ao meio,
55% de sua população
vivia no campo. Continuava o êxodo dos colonos para a cidade, em busca de
trabalho. Havia milhares de vagas naquele grande canteiro de obras em que o
país se transformara. Brasília brotava do nada no planalto central, as estradas
rasgavam o mapa de norte a sul, construíam hidroelétricas. [...] O presidente
sorria, o povo confiava, a taça do mundo era nossa e havia muitas coisas novas
no cotidiano da cidade, os carros [...] e a televisão (NEPOMUCENO, 1999, p.156)
Dessa maneira, ocorria uma imensa mudança
nos hábitos dos brasileiros e a que mais influenciou na mudança do cenário
cultural foi a televisão. Esta buscou mostrar “a cara nova do Brasil, urbano e
próspero” (NEPOMUCENO, 1999, p.156). Assim ela modificou os horários dos
programas destinados ao público sertanejo e esvaziou auditórios das rádios que
tiveram que se adaptar à nova realidade, mudando horários da programação para
não perderem patrocinadores e ouvintes. O público urbano passou a se entreter
vendo seus artistas prediletos na TV, que tentava criar programações que
unificassem os diversos tipos de espectadores. Ao longo da década de 60, alguns
programas televisivos foram dedicados ao público sertanejo, mas todos com pouco
tempo de duração. Assim, embora JK gostasse de música sertaneja, através do
desenvolvimento do país impulsionado pelo seu governo foi que se iniciou o
processo de afastamento da música sertaneja de raiz dos grandes centros.
O projeto de desenvolvimento
de Juscelino, em termos culturais, foi eficiente em dar um primeiro impulso a
uma tendência que se arraigaria ainda mais nas décadas seguintes: como o modelo
econômico e de desenvolvimento passou a ser o de fora, especialmente o
hegemônico, dos Estados Unidos, tal universo referencial se tornou a fonte
‘cultural’ da emergente classe média brasileira. (SOUSA, 2005, p.154)
A música sertaneja, que já fora moda
no Brasil junto às elites, começava a disputar espaço com a MPB e os outros
gêneros que se formavam no país, onde a moda agora seria ser moderno e
conseqüentemente urbano.
Como o Volkswagen,
como o rock, como Celly Campelo, como os Estados Unidos. Depois do ufanismo das
operetas e burletas sertanejas, dos poetas dos cenários nacionalistas, como
Catulo, dos modernistas que falavam e pintavam as caras do Brasil, de caipiras
e nordestinos agarrados nas suas violas e sanfonas, dos passeios rítmicos pelas
fronteiras, a música ganhava outros tons. Desafinados ou eletrificados, mas que
chegavam à nova geração. (NEPOMUCENO, 1999, p.156)
A população estava dividida, metade
dos 70 milhões de habitantes moravam na cidade em meados dos anos 60. Isso
provocou uma grande troca de valores, tanto da roça para a cidade quanto o
inverso, mudando inclusive a mentalidade interiorana quanto aos seus valores e
sua cultura. A Bossa Nova chegou a flertar com os temas bucólicos sertanejos,
mas o rock provocou uma aversão às duplas e suas “caipirisses”. O jovem não
podia se prender àquela música rústica e quadrada, o momento agora era outro. O
termo caipira novamente é adotado pejorativamente e usado entre a juventude
para chacotear o músico sertanejo e seus fãs.
A TV passa então a moldar o estilo de
vida do citadino moderno e a criar necessidades de consumo. E a rede que melhor
absorveu essa nova arma da indústria cultural foi a emissora fundada em 1965
por Roberto Marinho, a Rede Globo.
O consumidor desse
tipo de programação era a emergente classe média, encantada com o estilo de
vida dos países estrangeiros, e que fazia, da televisão, a melhor janela para
vislumbrar seus sonhos de consumo. [...] Criava novas necessidades no
consumidor dos importados. Ou seja, facilitava, ao mesmo tempo, a instalação de
empresas no país com condições de saciar esses novos anseios de consumo. (SOUSA,
2005, p.155)
O sertanejo saiu dos palcos nobres,
mas não perdeu seu mercado no interior e nas periferias dos centros urbanos, de
modo que ainda eram lançados mais de trinta discos por mês para alimentar
somente a periferia de São Paulo. Os custos eram baixíssimos e o retorno
garantido. Entretanto, as gravadoras já começavam a buscar meios de adequar
aquela música aos novos tempos, seja com instrumentação mais moderna, seja na
interpretação, seja nos temas das músicas.
O mercado sertanejo, mesmo com todas
as intempéries, se estabelece e se profissionaliza. Como nos afirma o
compositor Marrequinho em entrevista concedida, já havia a União dos Artistas
Sertanejos de São Paulo, a UASP, criada por Geraldo Meirelles e pelo violeiro
Zé Claudino para que os artistas sertanejos tivessem um ponto de encontro para
trocarem composições e fecharem acordos de shows, deixando de fazer essas
negociatas nos bares do centro de São Paulo, ou no Café Caboclo, no largo
Paissandu, de onde eram muitas vezes expulsos pelos donos. Havia a Revista
Sertaneja da editora Prelúdio com uma tiragem de 40.000 exemplares, com poemas,
composições, entrevistas entre outras curiosidades do meio e dos artistas
sertanejo. Além da revista Modinha, da mesma editora, com letras das músicas de
sucesso.
Muitos artistas surgiram ainda nesse
período, apesar de toda a dificuldade para chegarem às gravadoras nesse momento
em que estavam sobrecarregadas pelos outros estilos musicais. Inclusive, na
década de 60, aparecem no cenário nacional alguns artistas de Goiás, como
Brasão e Brasãozinho, Os filhos de Goiás, e outros como Lourenço e Lourival,
Abel e Caim, Zilo e Zalo, Zico e Zeca, Lio e Léo, mas nenhum tão relevante
quanto Tibagi e Miltinho.
Estes começaram a gravar em 1960.
Miltinho de Goiás e Tibagi de São Paulo deram formação à primeira dupla “que
começaram o namoro da música sertaneja de raiz com a música jovem” (Grifo do autor. NEPOMUCENO, 1999, p.156) e abriram
caminho para artistas como Belmonte e Amaraí, Léo Canhoto e Robertinho,
Chitãozinho e Xororó, entre outros.
Nesse momento, a tímida caboclinha,
tema das músicas de décadas anteriores, já estava sendo substituída pela mulher
fogosa, que representa nada mais do que um retrato do público que consumia essa
música, a essa altura destinada ao homem da cidade, mesmo que com heranças da
roça.
Nesse meio tempo houve manifestações
que cabem comentários. São elas: a gravação da música ‘Disparada’ de Geraldo
Vandré e Théo Barros, vencedora em 1966 do II Festival de Música Popular
Brasileira, da TV Record, cantada por Jair Rodrigues e tocada pelo
multiinstrumentista Heroldo do Monte, que manuseou uma viola caipira na
apresentação. Essa música circulou todo o Brasil, por falar da origem do
sertanejo e seu destino na cidade. Entretanto a viola continuará rejeitada
pelos jovens artistas da cidade, como nos relata Sousa. (2005, p. 159-160)
No final da década de 60, a viola representava “um
objeto tão obsoleto quanto um moedor de café, daqueles de ferro, das velhas
fazendas” (NEPOMUCENO, 1999, p.174) e assim a música sertaneja segue na
marginalidade cultural até meados dos anos 80 quando há uma nova reviravolta na
indústria cultural.
4ª PARTE
Continua...
CONTATO COM CHICO JR: (62) 84585052
E-mail: robsonechicojr@gmail.com
Anacleto Rosas Junior!"Está no facebook"Temo musicas inéditas para gravar""QUEM SERÁ O PRIMEIRO"ANACLETO ROSAS JUNIOR SEMPREFOI RECORD DE VENDAGEM"
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