MARREQUINHO – O MENINO
DE CAMPO FORMOSO
MEMÓRIAS DE UM
ARTISTA SERTANEJO
Minha Musa Inspiradora
CAPÍTULO XX
*
Diz a tradição, que todo poeta tem uma musa
inspiradora por quem nutre um grande amor, uma avassaladora paixão. Acredito
que em alguns casos, essa musa seja apenas uma fantasia. Só existe no
pensamento do seu idealizador, que na sua carência de afeto abriga em sua
mente, a imagem da companheira ideal, virtuosa, linda, meiga, sensual, humilde,
desprovida de qualquer traço de egoísmo e de arrogância. Enfim, uma mulher
deusa, que qualquer homem gostaria de conhecer, de amar e de ser amado por ela.
Na verdade, quando mais jovem, alimentei inumeráveis fantasias. Musas fictícias
fizeram parte da minha mente em algumas etapas da minha jornada artística. Ao
longo da minha vida convivi com muitas mulheres, dentre as quais por diversas
vezes pensei ter vislumbrado o perfil de quem poderia ser a mulher perfeita,
para se tornar a "minha" musa. Mas, elas acabavam demonstrando que
tinham apenas beleza física. Não possuíam virtude alguma, eram mulheres comuns,
algumas delas eram até mesmo vulgares. Mas, o que eu considerava ser
impossível, o destino me mostrou que era possível. Casualmente conheci o
Anjo-mulher, a virtuosa e bela criatura que viria a se tornar real e
definitivamente a minha musa inspiradora. Na época ela se recuperava de fortes
abalos emocionais sofridos no âmbito familiar.
Mulher maravilhosa, de extrema sensibilidade, tão meiga, tão delicada,
tão pura e tão linda, que, falando de maneira figurada era parecida com uma
gota de orvalho numa pétala de rosa. Surgiu de mansinho, em minha vida. Eu
estava tentando me manter de pé ante os "baques" sofridos com os
resultados de um complicado romance desfeito. Mesmo assim, ao conhecer aquela
criaturinha tão delicada que me pareceu estar tão necessitada de compreensão e
de carinho deixei de lado minhas contrariedades amorosas, e, de maneira
espontânea e sem qualquer intenção que não fosse a de confortar alguém que sofria
lhe ofereci meu ombro amigo para que ela se apoiasse (moralmente), enquanto
ela, deixando de lado suas próprias mágoas pessoais, generosamente estendeu-me
as mãos, com a única intenção de guiar-me para longe dos meus distúrbios
psicológicos. Assim, descobrimos que tínhamos muitas afinidades, comungávamos
os mesmos ideais e sonhávamos os mesmos sonhos. Mas, infelizmente eram somente
sonhos, que nunca se tornariam reais. Porque o destino havia traçado caminhos
diferentes, para nós.
**
Na verdade, aquela mulher deusa não foi
apenas a minha musa inspiradora. Admito que ela tenha significado muito mais do
que isso, para mim. Confesso que eu a amei muito. Porém, de
maneira platônica, com um amor nunca totalmente declarado, a não ser através
dos muitos versos que escrevi pensando nela. Ela também me amou, eu sei. Mas,
da mesma forma que eu a amei. Sem contatos físicos, sem declarações e também
sem alimentar qualquer esperança de que a vida permitiria que pertencêssemos um
ao outro, algum dia. Ela se contentava em saber que eu a considerava a minha musa inspiradora. Eu me satisfazia,
em saber que ela me considerava, o seu poeta. Nossos passos nos levaram para
diferentes direções e nos fizeram caminhar por tortuosos caminhos, mesmo assim
nunca houve um adeus definitivo entre nós. E nunca nos afastamos totalmente um
do outro. Encontramo-nos, nos olhamos, e nos calamos. Porque existem momentos
em que o silêncio tem mais força de expressão do que milhões de palavras. Temos
almas gêmeas, que sente falta, uma da outra. Por isso, se procuram se encontram
se comunicam se entendem e se completam. Após algum tempo ela se vai,
novamente. E, eu aguardo confiante, com a certeza de que qualquer dia ela virá
procurar-me, outra vez, para amenizar a saudade provocada pelo inexplicável
emaranhado de sentimentos existentes entre nós dois. Nossos corpos, nunca se
uniram, mas, nossas almas se entrelaçaram, e, nunca se separaram. Aquela
criatura querida, ainda é e será sempre, a minha musa inspiradora, e eu sei que
ainda sou e serei sempre, o seu poeta.
* Ilustração: bico de pena – rosto de mulher -
by fernandomerlo
** Ilustração:
bico de pena – rosto de mulher - Design
gráfico
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"...OS VERSOS QUE EU ESCREVO / SÃO PROPRIEDADES DELA / POIS SÓ TENHO INSPIRAÇÃO / QUANDO ESTOU PENSANDO NELA..."
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Marrequinho não sei se conheceu o Barrerito, se sim, escreva algo sobre ele aí. Barrerito pessoa e Barrerito artista.
ResponderExcluirRealmente a poesia é deflagrada no poeta/poetisa por sua musa/"muso", motivo inspirador, causador, que causa a dor e alegria de descrever os sentimentos e justificar nossa sensibilidade. Muitas vezes correspondido, outras tantas platônico, outras imaginado. Mas sem dúvida, há que existir sempre um motivo alimentado e desejado por quem necessita cantar os sentimentos. Seu texto é comum a todos os poetas. Expressivo!
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