MARREQUINHO – O MENINO DE CAMPO
FORMOSO
MEMÓRIAS DE UM ARTISTA SERTANEJO
Capítulo XII
A Garçonete do "Nosso Bar"
Acervo: Terezinha Martins
Publicação
Autorizada
Voltei à vida de boêmio, noctívago e frequentador assíduo dos lugares
em que se reunia a confraria dos artistas (pra não dizer, desocupados)
sertanejos da época. Principalmente o "Nosso Bar". Ali trabalhava uma
garçonete pela qual eu estava "embeiçado" á algum tempo. Eu já havia
tido relacionamentos amorosos de quase todos os naipes. Namorei moças sérias,
moças não muito sérias, encarei noivados, com aliança e tudo, tive casos com
mulheres de vida livre, mas, nenhuma namorada, noiva ou "enguiço"
havia me feito sentir o que sentia pela tal garçonete.
Eu, com 18 anos, ela, com 26. Foi amor á primeira vista. Recíproco,
felizmente. Quais duas metades que se procuram se encontram e se completam de
maneira total. Entregamo-nos um ao outro incondicionalmente, sem reservas, sem
limites e também sem refletir sobre consequências, que certamente haveríamos de
enfrentar e que realmente não foram poucas. Eu era livre igual ao vento, mas,
ela não era. Minha adorada mineirinha de Araguari era casada, e, separada do
marido, um homem rude, violento e o que era pior, ciumento e inconformado com a
separação. De forma doentia e possessiva não queria vê-la trabalhando, embora
fosse para garantir sustento aos quatro filhos do casal, três meninas e um
garoto, de cinco a doze anos respectivamente. O inescrupuloso, irresponsável, e
insensível ex-marido, tentando forçá-la a repensar a situação, não cumpria com
os seus deveres de pai, se negando a assumir a responsabilidade assistencial
para com os filhos, deixando isso para a desprotegida e despreparada mãe. E
naquele tempo, a mulher que se julgasse no direito de trabalhar fora das lides
domésticas, mesmo que por necessidades extremas, era invariavelmente,
considerada rameira, mulher de vida livre. A independência feminina era um anseio
que estava ainda muito longe de ser aceito pelos preconceitos existentes e pela
hipocrisia da sociedade da época, de hoje e talvez de sempre. Mas, ela resistiu
a tudo e a todos, passou por constrangimentos, sofreu ameaças, correu perigo de
vida, mas, não permitiu que nada disso turvasse a limpidez que havia em sua
mente de pessoa bem formada e muito menos que a problemática da nossa situação
interferisse na beleza do nosso relacionamento.
Eu, só me sentia completo, com ela. Ela, só se sentia completa, comigo.
Isso era o amor, na sua essência. Ela era uma linda mulher. Pernas bem
torneadas sustentavam seu corpo, que tinha as curvas que tem a viola caipira.
Seus olhos verdes, muito meigos, emitiam o suave brilho que emitem as
esmeraldas. Seus cabelos castanhos, longos e encaracolados, formavam cascatas e
desciam harmoniosamente até ao meio das costas. Boca pequena, dentes cor de
marfim, lábios vermelhos, sensuais, que sugeriam beijos. Sua pele era macia,
aveludada e quente, como quente era o seu amor, por mim. Meu Deus, como eu me
sentia feliz ao lado daquela mulher. Nunca mais fui amado do jeito que ela me
amou, e nunca mais consegui amar alguém com a intensidade que amei aquela que
foi o primeiro e único grande amor da minha vida: Tereza, a garçonete do Nosso
Bar. Um dia, ela se foi. E nunca mais voltou. E, mesmo depois de muitos anos
passados, ainda existia dentro de mim uma saudade imensa da garçonete do
"Nosso Bar" e um marcante inconformismo por não ter tido a coragem de
levar avante o meu desejo de compartilhar a minha vida com aquela que eu
julgava que Deus havia destinado á mim, e que pela minha ânsia de liberdade,
falta de estrutura financeira e de idoneidade moral, além de imaturidade
psicológica deixei que fosse levada pelas ondas do destino. Essas reflexões e
essas lembranças habitam num cantinho da minha alma, até hoje.
Marrequinho e Tereza uns dois meses antes da
morte dela, ocorrida em 11/02/2012.
Um
sentimento de afeto, de admiração e de respeito que resistiu ao tempo
Em homenagem a ela vou
postar aqui um vídeo clip caseiro com uma das minhas músicas que ela mais
gostava de ouvir. “PRANTO DO ADEUS”. Letra minha e melodia de Ronaldo Adriano,na interpretação de “Carlos José o maior seresteiro do Brasil
Leia neste blog, os Capítulos anteriores do livro “Marrequinho- O Menino de Campo Formoso”. Memórias de um artista sertanejo.
Contato com Marrequinho:
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