segunda-feira, 7 de maio de 2012

A Garçonete do "Nosso Bar"










MARREQUINHO – O MENINO DE CAMPO FORMOSO


              MEMÓRIAS DE UM ARTISTA SERTANEJO
                                        Capítulo XII
                  A Garçonete do "Nosso Bar"

      Acervo: Terezinha Martins
       Publicação Autorizada

Voltei à vida de boêmio, noctívago e frequentador assíduo dos lugares em que se reunia a confraria dos artistas (pra não dizer, desocupados) sertanejos da época. Principalmente o "Nosso Bar". Ali trabalhava uma garçonete pela qual eu estava "embeiçado" á algum tempo. Eu já havia tido relacionamentos amorosos de quase todos os naipes. Namorei moças sérias, moças não muito sérias, encarei noivados, com aliança e tudo, tive casos com mulheres de vida livre, mas, nenhuma namorada, noiva ou "enguiço" havia me feito sentir o que sentia pela tal garçonete.
Eu, com 18 anos, ela, com 26. Foi amor á primeira vista. Recíproco, felizmente. Quais duas metades que se procuram se encontram e se completam de maneira total. Entregamo-nos um ao outro incondicionalmente, sem reservas, sem limites e também sem refletir sobre consequências, que certamente haveríamos de enfrentar e que realmente não foram poucas. Eu era livre igual ao vento, mas, ela não era. Minha adorada mineirinha de Araguari era casada, e, separada do marido, um homem rude, violento e o que era pior, ciumento e inconformado com a separação. De forma doentia e possessiva não queria vê-la trabalhando, embora fosse para garantir sustento aos quatro filhos do casal, três meninas e um garoto, de cinco a doze anos respectivamente. O inescrupuloso, irresponsável, e insensível ex-marido, tentando forçá-la a repensar a situação, não cumpria com os seus deveres de pai, se negando a assumir a responsabilidade assistencial para com os filhos, deixando isso para a desprotegida e despreparada mãe. E naquele tempo, a mulher que se julgasse no direito de trabalhar fora das lides domésticas, mesmo que por necessidades extremas, era invariavelmente, considerada rameira, mulher de vida livre. A independência feminina era um anseio que estava ainda muito longe de ser aceito pelos preconceitos existentes e pela hipocrisia da sociedade da época, de hoje e talvez de sempre. Mas, ela resistiu a tudo e a todos, passou por constrangimentos, sofreu ameaças, correu perigo de vida, mas, não permitiu que nada disso turvasse a limpidez que havia em sua mente de pessoa bem formada e muito menos que a problemática da nossa situação interferisse na beleza do nosso relacionamento.               
Eu, só me sentia completo, com ela. Ela, só se sentia completa, comigo. Isso era o amor, na sua essência. Ela era uma linda mulher. Pernas bem torneadas sustentavam seu corpo, que tinha as curvas que tem a viola caipira. Seus olhos verdes, muito meigos, emitiam o suave brilho que emitem as esmeraldas. Seus cabelos castanhos, longos e encaracolados, formavam cascatas e desciam harmoniosamente até ao meio das costas. Boca pequena, dentes cor de marfim, lábios vermelhos, sensuais, que sugeriam beijos. Sua pele era macia, aveludada e quente, como quente era o seu amor, por mim. Meu Deus, como eu me sentia feliz ao lado daquela mulher. Nunca mais fui amado do jeito que ela me amou, e nunca mais consegui amar alguém com a intensidade que amei aquela que foi o primeiro e único grande amor da minha vida: Tereza, a garçonete do Nosso Bar. Um dia, ela se foi. E nunca mais voltou. E, mesmo depois de muitos anos passados, ainda existia dentro de mim uma saudade imensa da garçonete do "Nosso Bar" e um marcante inconformismo por não ter tido a coragem de levar avante o meu desejo de compartilhar a minha vida com aquela que eu julgava que Deus havia destinado á mim, e que pela minha ânsia de liberdade, falta de estrutura financeira e de idoneidade moral, além de imaturidade psicológica deixei que fosse levada pelas ondas do destino. Essas reflexões e essas lembranças habitam num cantinho da minha alma, até hoje.


Marrequinho e Tereza uns dois meses antes da morte dela, ocorrida em 11/02/2012.

       
Um sentimento de afeto, de admiração e de respeito que resistiu ao tempo

Em homenagem a ela vou postar aqui um vídeo clip caseiro com uma das minhas músicas que ela mais gostava de ouvir. “PRANTO DO ADEUS”. Letra minha e melodia de Ronaldo Adriano,na interpretação de “Carlos José o maior seresteiro do Brasil



Leia neste blog, os Capítulos anteriores do livro “Marrequinho- O Menino de Campo Formoso”.  Memórias de um artista sertanejo.

                                                                                                                                 

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