Capítulo XLVII
A História se Repete.
Novamente estou sozinho.
Marrequinho - O Menino
de Campo Formoso
Memórias de um artista
sertanejo
No
capítulo anterior, me mostrei confiante dizendo que a minha conturbada história
havia chegado a um final feliz. Só que, a história ainda não estava terminada.
Nem
sei se conseguirei ser coerente na explanação que quero deixar registrada neste
capítulo das minhas reminiscências. As lembranças se atropelam em minha mente.
A saudade faz com que me sinta dentro de um redemoinho formado por conflitos
emocionais, onde se chocam o desejo de exercer o bom senso, na aceitação
resignada de mais um revés amoroso, ou, se me deixo sucumbir sob a força do
instinto animal, que dá pinotes dentro de mim, exigindo ação e tentando falar
mais alto que a minha habitual ponderação.
Mas,
não vou sucumbir. Acredito que vim a este mundo predestinado a cumprir uma
difícil missão. Não sei se a escolhi voluntariamente com o intuito de atingir
evolução espiritual, no conceito de Deus ou, se essa missão me foi imposta como
punição por faltas cometidas por mim, em outras eras. Aos trancos e barrancos
tenho procurado não me curvar ante as peripécias com as quais eu tenha que me
defrontar. Aprendi a aceitar a verdade de que cada pessoa é o que é, e não o
que a gente gostaria que ela fosse. Assim, consegui manter a calma, apesar de
sentir minha alma dilacerada e todos os meus sentidos literalmente paralisados,
quando, na tarde de um dia qualquer, do mês de julho de 2.006, minha dedicada,
exemplar, abnegada e fiel esposa, um pouco constrangida, mas, decidida a levar
avante sua determinação, assim me disse: "Existe
outro homem em minha vida. Vou deixar esta casa. Quero me separar de você, para
viver com ele". Apenas isso, nada mais. Afinal de contas, não havia
mais nada para ser dito. Naquela hora eu também não encontrei palavras para lhe
responder. Responder o que? Que estava tudo bem? Que isso era uma coisa normal?
Finalmente, depois de um prolongado e angustiante silêncio, com a voz
embargada, eu lhe disse:
"Selma, o próprio
Jesus Cristo, o Divino Mestre não julgou nem condenou Madalena e a perdoou dos
seus pecados, aconselhando-a a se arrepender dos seus erros. Por isso, eu, que
sou tão pequenino, tão indigno e tão imperfeito, não me sinto no direito de
julgá-la, nem de condená-la pelo que você está provocando com esse
procedimento, para o qual não consigo encontrar denominação. Você está
destruindo impiedosamente a própria estrutura de tudo o que construímos, com
muita luta, durante dezesseis anos. Está destruindo a sua própria dignidade,
está ferindo a minha honra, destruindo a tranquilidade dos nossos filhos, e,
está destroçando de maneira total e definitiva a vida de um homem que te ama
muito e que sempre confiou cegamente em você. Mas, eu te perdoo e suplico a
Deus, que te perdoe, também".
Naquele
momento choramos juntos. Mas, nossas lágrimas não iriam alterar o curso que as
nossas vidas seguiriam dali pra frente.
Vendi
a casa que havia sido construída com tanto amor e com tanto sacrifício e
reparti com ela, meio a meio, o valor da venda para que ela pudesse comprar um
lugarzinho para morar. Eu, desnorteado e quase sucumbindo sob o peso do
desgosto que furiosamente invadiu minha alma meu coração e minha mente, não me
senti com condição psicológica de assumir a guarda das nossas crianças. Ficou
acertado que eu repassaria a ela, metade do valor da minha aposentadoria
(acordo que tenho cumprido religiosamente), como pagamento de pensão
alimentícia. Quanto a mim, pensei, Deus proverá as minhas necessidades. E mais
uma vez, eu estava sendo abandonado por alguém que eu amava muito. Dali pra
frente, eu estaria sozinho, novamente.
Ao
cair da tarde do dia 10 de agosto de 2006, a "nossa" casa do Jardim Primavera estava
literalmente vazia. Minha esposa, meus filhos e tudo em que consistia o
mobiliário e utensílios domésticos estavam agora em outro endereço. Um
endereço, onde não havia espaço para mim. Naquele dia 10 de agosto
vi meu sonho mais lindo se transformar num horrível pesadelo.
Não
vou escrever contando sobre o que tenho passado daquele dia pra cá. Seria muito
doloroso pra mim, e, cansativo para alguém que tenha se interessado em ler esse
livro que contém as reminiscências de um sofrido artista sertanejo.
Perpetuados
na minha mente ficarão para sempre os vultos da minha esposa e dos meus filhos,
se afastando de mim, até se perderem na distância. Naquele momento, eu morri
por dentro. E já não sou o menino sonhador de Campo Formoso. Agora sou apenas
um velho que está definhando, mergulhado nas reminiscências que ferem e se
afogando na solidão, que mata.
Tornei-me
um colecionador de lembranças, um guardador
de saudades.
"PERDOANDO SEMPRE" - Marrequinho e Mozair
Composição: Marrequinho
Acompanhamento: Mozart (Violão) e Chico Júnior (Viola e Vocal)
Acompanhamento: Mozart (Violão) e Chico Júnior (Viola e Vocal)
Vídeo gravado ao vivo, em 2013 em minha casa (onde o vento encosta o cisco).
Contato com Marrequinho:
E-mails: marrequinhocompositor@hotmail.com
compositormarrequinho@gmail.com
Palcomp3: http://palcomp3.com/marrequinho/
Marrequinho obrigado pelo trabalho em seu blog mostrando coisas bonitas do mundo caipira, parabens por editar essa cultura que tanto faz bem pra gente, gente como eu que vim da roça que ouvia de madrugada em radio de pilha belas melodias, bons tempos mas mesmo sem muito apoio da midia a nossa cultura caipira ainda continua
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