segunda-feira, 3 de junho de 2013

OUTRA VEZ ALGUÉM ME DEIXA



Capítulo XLVII

A História se Repete.
Novamente estou sozinho.




Marrequinho - O Menino de Campo Formoso

Memórias de um artista sertanejo
  
No capítulo anterior, me mostrei confiante dizendo que a minha conturbada história havia chegado a um final feliz. Só que, a história ainda não estava terminada.  
Nem sei se conseguirei ser coerente na explanação que quero deixar registrada neste capítulo das minhas reminiscências. As lembranças se atropelam em minha mente. A saudade faz com que me sinta dentro de um redemoinho formado por conflitos emocionais, onde se chocam o desejo de exercer o bom senso, na aceitação resignada de mais um revés amoroso, ou, se me deixo sucumbir sob a força do instinto animal, que dá pinotes dentro de mim, exigindo ação e tentando falar mais alto que a minha habitual ponderação.
Mas, não vou sucumbir. Acredito que vim a este mundo predestinado a cumprir uma difícil missão. Não sei se a escolhi voluntariamente com o intuito de atingir evolução espiritual, no conceito de Deus ou, se essa missão me foi imposta como punição por faltas cometidas por mim, em outras eras. Aos trancos e barrancos tenho procurado não me curvar ante as peripécias com as quais eu tenha que me defrontar. Aprendi a aceitar a verdade de que cada pessoa é o que é, e não o que a gente gostaria que ela fosse. Assim, consegui manter a calma, apesar de sentir minha alma dilacerada e todos os meus sentidos literalmente paralisados, quando, na tarde de um dia qualquer, do mês de julho de 2.006, minha dedicada, exemplar, abnegada e fiel esposa, um pouco constrangida, mas, decidida a levar avante sua determinação, assim me disse: "Existe outro homem em minha vida. Vou deixar esta casa. Quero me separar de você, para viver com ele". Apenas isso, nada mais. Afinal de contas, não havia mais nada para ser dito. Naquela hora eu também não encontrei palavras para lhe responder. Responder o que? Que estava tudo bem? Que isso era uma coisa normal? Finalmente, depois de um prolongado e angustiante silêncio, com a voz embargada, eu lhe disse:
"Selma, o próprio Jesus Cristo, o Divino Mestre não julgou nem condenou Madalena e a perdoou dos seus pecados, aconselhando-a a se arrepender dos seus erros. Por isso, eu, que sou tão pequenino, tão indigno e tão imperfeito, não me sinto no direito de julgá-la, nem de condená-la pelo que você está provocando com esse procedimento, para o qual não consigo encontrar denominação. Você está destruindo impiedosamente a própria estrutura de tudo o que construímos, com muita luta, durante dezesseis anos. Está destruindo a sua própria dignidade, está ferindo a minha honra, destruindo a tranquilidade dos nossos filhos, e, está destroçando de maneira total e definitiva a vida de um homem que te ama muito e que sempre confiou cegamente em você. Mas, eu te perdoo e suplico a Deus, que te perdoe, também".
Naquele momento choramos juntos. Mas, nossas lágrimas não iriam alterar o curso que as nossas vidas seguiriam dali pra frente.
Vendi a casa que havia sido construída com tanto amor e com tanto sacrifício e reparti com ela, meio a meio, o valor da venda para que ela pudesse comprar um lugarzinho para morar. Eu, desnorteado e quase sucumbindo sob o peso do desgosto que furiosamente invadiu minha alma meu coração e minha mente, não me senti com condição psicológica de assumir a guarda das nossas crianças. Ficou acertado que eu repassaria a ela, metade do valor da minha aposentadoria (acordo que tenho cumprido religiosamente), como pagamento de pensão alimentícia. Quanto a mim, pensei, Deus proverá as minhas necessidades. E mais uma vez, eu estava sendo abandonado por alguém que eu amava muito. Dali pra frente, eu estaria sozinho, novamente.
Ao cair da tarde do dia 10 de agosto de 2006, a "nossa" casa do Jardim Primavera estava literalmente vazia. Minha esposa, meus filhos e tudo em que consistia o mobiliário e utensílios domésticos estavam agora em outro endereço. Um endereço, onde não havia espaço para mim. Naquele dia 10 de agosto vi meu sonho mais lindo se transformar num horrível pesadelo.
Não vou escrever contando sobre o que tenho passado daquele dia pra cá. Seria muito doloroso pra mim, e, cansativo para alguém que tenha se interessado em ler esse livro que contém as reminiscências de um sofrido artista sertanejo.
Perpetuados na minha mente ficarão para sempre os vultos da minha esposa e dos meus filhos, se afastando de mim, até se perderem na distância. Naquele momento, eu morri por dentro. E já não sou o menino sonhador de Campo Formoso. Agora sou apenas um velho que está definhando, mergulhado nas reminiscências que ferem e se afogando na solidão, que mata. 
Tornei-me um colecionador de lembranças, um guardador de saudades.                           
                       
"PERDOANDO SEMPRE" - Marrequinho e Mozair
Composição: Marrequinho
Acompanhamento: Mozart (Violão) e Chico Júnior (Viola e Vocal)
Vídeo gravado ao vivo, em 2013 em minha casa (onde o vento encosta o cisco).
 
Contato com Marrequinho:
E-mails: marrequinhocompositor@hotmail.com
               compositormarrequinho@gmail.com


Um comentário:

  1. Marrequinho obrigado pelo trabalho em seu blog mostrando coisas bonitas do mundo caipira, parabens por editar essa cultura que tanto faz bem pra gente, gente como eu que vim da roça que ouvia de madrugada em radio de pilha belas melodias, bons tempos mas mesmo sem muito apoio da midia a nossa cultura caipira ainda continua

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