sexta-feira, 25 de maio de 2012

MARREQUINHO NO BAZAR PAULISTINHA-XV/XVI










MARREQUINHO – O MENINO DE CAMPO FORMOSO

Memórias de Um Artista Sertanejo
                     
                              Capítulo XV

       Marrequinho: Funcionário do Bazar Paulistinha
           
Até o ano de 1.961 vivi de maneira despreocupada. Quase que de forma irresponsável. 23 anos de idade, bem apessoado, muita energia e um idealismo inabalável. Mas, comecei a perceber que só a fama de bom cantador e a de ajuntador de versos não supririam as necessidades que a vida nos impõe. Vivendo apenas dos Direitos Autorais, que recebia de vez em quando, a vaca tava indo pro brejo. Então, resolvi fazer o que muitos dos companheiros de viola já haviam feito: Arranjar um emprego com o qual pudesse me sustentar. Mas, eu não sabia o que procurar. Afinal eu era apenas aspirante a me tornar famoso como artista sertanejo. A fama, até que estava vindo, mas o dinheiro não aparecia.
A violeirada da época fazia "soca" em três pontos distintos. À noite, era cachaçada no "Nosso Bar", na Avenida Anhanguera esquina com a Rua Catalão (hoje se chama Rua Senador Jaime), em Campinas. Durante o dia, havia duas opções: Era a pensão da dona Brasilina ou o Bazar Paulistinha. Na pensão, sempre havia "violada". No Bazar, a gente ia por motivos óbvios. Era lá que estava o homem que tinha prestígio suficiente para mandar gravar quem ele quisesse. Waldomiro Bariani Ortencio.. Pioneiro em Goiás, na venda de discos, vitrolas e coisas do gênero, com uma rede de lojas que atendia todo o Centro Oeste do Brasil. Tinha até discoteca-móvel. Isso mesmo, discoteca-móvel. O "seu" Waldo mandou equipar uma Kombi, com prateleiras, mesinha para aparelho de som que era alimentado pela bateria da Kombi, e contratou um motorista-vendedor que percorria as cidades do interior do Estado de Goiás, vendendo discos, e agulhas para vitrolas. Ideia brilhante, inovadora, produtiva mesmo. O motorista contratado foi o Olídio Machado (Nuvem Negra), mineiro de Ituiutaba, excelente primeira voz, havia feito parte de várias duplas, inclusive gravado um disco 78 RPM com o Panamy (Nego Vilela) lá de Palmeiras de Goiás. E, foi frequentando o Bazar do Waldomiro, que eu consegui o meu primeiro emprego, com carteira assinada e tudo. Que o homem sempre foi muito correto no cumprimento de suas obrigações. Eu me tornei uma espécie de secretário do "manda chuva" e também auxiliar de escritório, na Empresa dele, a W. Bariani Ortencio. Nome de fantasia: Bazar Paulistinha. Até hoje não sei bem, por que ele me ofereceu aquele emprego. Eu não tinha preparo para desempenhar as funções que me foram confiadas. Mas, não desperdicei a oportunidade. Procurei aprender, substituindo a ineficiência, pela boa vontade, usei a minha honestidade, um pouquinho de habilidade muita dedicação ao compromisso assumido, com o desejo de corresponder a confiança que ele depositara em mim. Eu sentia (e sinto) profunda admiração por aquele homem. Pela maneira com que ele administrava a Empresa, como demonstrava tamanha afeição pelo círculo familiar, e como acreditava nos objetivos que pretendia alcançar (e alcançou), pela seriedade com que buscava sua estabilidade Empresarial, pela sua idoneidade moral e também pela capacidade de conciliar tudo isso, com a sua sensibilidade de artista. Empresário, Compositor e Escritor. Para mim, essas características faziam dele um Super homem. Era exigente, mas não era arrogante. Sabia muito, mas não menosprezava aos que sabiam menos. Estagnar, nunca. Avançar, sempre. Esse era o seu lema. Waldomiro Bariani Ortencio, um mito, nos segmentos do comércio, da música e da literatura. Trabalhei com ele por mais de três anos. Foi graças ao seu apoio que gravei com o Olídio (Nuvem Negra), um compacto duplo (quatro músicas) na gravadora Áudio Fidelyti do Brasil. O destaque daquele disco foi a música "Ergam as Taças", de autoria do próprio Bariani, em parceria com o Lindomar Castilho.
                                                                                



ERGAM AS TAÇAS
Bariani Ortencio - Limdomar Catilho
MEU TORMANTO
Ubiraja Moreira - Parcival Moreira
ADEUS À BOEMIA
Marrequinho - Campeão
SE A LUA CONTASSE
Nuvem Negra




Foto: Bariani Ortencio
     MARREQUINHO & NUVEM NEGRA

Sei 
         Seis meses após a gravação do compacto, “Nuvem” Negra se desligou do quadro de funcionários do Bazar Paulistinha. Com o seu afastamento, e, por não estarmos colhendo nenhum resultado da nossa atuação artística, a nossa dupla foi desfeita.
         Pouco tempo depois, num gesto impensado demonstrei muita insensatez e uma "baita" infantilidade. Um dia, em que achei que o patrão estava mais exigente do que o de costume, impulsivamente redigi um bem elaborado "PEDIDO DE DEMISSÃO". E o homem, que não era de adular ninguém, quando o recebeu, simplesmente escreveu com letras graúdas, que iam de um canto ao outro do documento: C O N C E D I D O. E assim, o famoso compositor de música sertaneja, Marrequinho, voltou a ser um desocupado.Com esse desfecho conheci na prática o resultado de se cutucar onça com vara curta.
C
                                                  

    
                  

                 Chico Jr.,  Bariani Ortencio e 
                             Marrequinho




MARREQUINHO – O MENINO DE CAMPO FORMOSO
                Memórias de Um Artista Sertanejo


                                                        Capítulo XVI

                       A Influência da Música Castelhana

Nas décadas de 50/60, a música castelhana conquistou um público considerável, no Brasil, através de intérpretes como: MIGUEL ACEVES MEJIA, LIBERTAD LA MARQUE, CUCO SANCHES, TRIO LOS PANCHOS, TRIO CRISTAL, PEDRO VARGAS e outros. Os novos valores (alguns veteranos também) souberam tirar proveito disso. Deitaram e rolaram, em cima dos cancioneiros mexicano e paraguaio, principalmente, regravando músicas que foram sucesso, lá e aqui. Compositores nossos, bem intencionados e capacitados, mostraram muito profissionalismo e, respeitando a obra original e seus Autores, fizeram versões maravilhosas, que o nosso público acatou com entusiasmo. Mas quando algum compositor, com pouco conhecimento, encontrava dificuldade em traduzir a letra, do original para o nosso idioma, recorria ao recurso das questionáveis adaptações, muitas vezes deturpando totalmente o sentido do tema original. Com isso, mostrando desrespeito ao(s) autor (es) da obra musical. Outros, mais inescrupulosos, se apropriavam indevidamente da melodia, faziam uma letra que nada tinha a ver com o tema original da canção, e lascavam seus nomes como Autores da mesma. Vou citar um exemplo, apenas para sacramentar a declaração que fiz Mas, só vou contar o milagre, não vou falar o nome do santo: MI MAZATLAN, sucesso de Miguel Aceves Mejia, por toda a América Latina. Se alguém quiser tirar a limpo, é só pesquisar... Intérpretes que tinham condição de dar boa interpretação para esse novo estilo de música, enriqueceram seus respectivos repertórios e atingiram o desejado resultado que era o de ter aceitação perante aqueles que ditam a palavra final, os compradores de discos. E eles corresponderam plenamente às expectativas. Aí, a música sertaneja se tornou realmente conhecida e ouvida em quase todo o BRASIL. E ganharam a parada, aqueles que acreditaram em seu potencial, e foram em frente. Nessa etapa, os responsáveis diretos por essa conquista faziam parte da safra de novos valores e também de gente da velha guarda:

                                   CASCATINHA E INHANA
                    NENETE E DORINHO
                    SULINO E MARRUEIRO
                    PEDRO BENTO, ZÉ DA ESTRADA E CELINHO.
                    TIÃO CARREIRO E PARDINHO
                    ZILO E ZALO
                    SÉRGIO REIS (Importante aquisição para a música sertaneja)
                    SILVEIRA E BARRINHA                  
                    DUDUCA E DALVAN
                    CAÇULA E MARINHEIRO
                    LINDOMAR CASTILHO
                    MILIONÁRIO E JOSÉ RICO
                    TIBAJI E MILTINHO
                    CRHISTIAN E RALF                                   
                    CHITÃOZINHO E XORORÓ
                                   GINO E GENO
                    BELMONTE E AMARAÍ
                    LÉO CANHOTO E ROBERTINHO
                    MATO GROSSO E MATHIAS
                    JOÃO MINEIRO E MARCIANO
                    PIÃO CARREIRO E PRAENSE
                    TRIO PARADA DURA (Creone, Barreirito e Mangabinha)
                    TEODORO E SAMPAIO
                    SILVEIRA E SILVEIRINHA e outros mais.

Possuíam estilos diferentes uns dos outros, mas, tinham algo em comum: A crença inabalável de que estavam construindo algo que ficaria para a posteridade, e ficou.                                                                                                                   
                                                 Para Constar

Lá das terras dos "hermanos", vieram também alguns ritmos que eram até então, quase desconhecidos para nós sertanejos. Huapango, Canção Rancheira, Carrilhão, Tango, Polca Paraguaia etc. 


LEIA OS CAPÍTULOS ANTERIORES DESTE LIVRO DE MEMÓRIAS. NESTE BLOG.

Contato com Marrequinho:

E-mail:        marrequinhocompositor@hotmail.com


                                
                                         








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