MARREQUINHO – O MENINO DE CAMPO FORMOSO
Memórias
de Um Artista Sertanejo
Capítulo
XV
Marrequinho: Funcionário do
Bazar Paulistinha
Até o ano de 1.961 vivi de
maneira despreocupada. Quase que de forma irresponsável. 23 anos de idade, bem
apessoado, muita energia e um idealismo inabalável. Mas, comecei a perceber que
só a fama de bom cantador e a de ajuntador de versos não supririam as
necessidades que a vida nos impõe. Vivendo apenas dos Direitos Autorais, que
recebia de vez em quando, a vaca tava indo pro brejo. Então, resolvi fazer o
que muitos dos companheiros de viola já haviam feito: Arranjar um emprego com o
qual pudesse me sustentar. Mas, eu não sabia o que procurar. Afinal eu era
apenas aspirante a me tornar famoso como artista sertanejo. A fama, até que
estava vindo, mas o dinheiro não aparecia.
A violeirada da época fazia
"soca" em três pontos distintos. À noite, era cachaçada no
"Nosso Bar", na Avenida Anhanguera esquina com a Rua Catalão (hoje se
chama Rua Senador Jaime), em Campinas. Durante o dia, havia duas opções: Era a
pensão da dona Brasilina ou o Bazar Paulistinha. Na pensão, sempre havia
"violada". No Bazar, a gente ia por motivos óbvios. Era lá que estava
o homem que tinha prestígio suficiente para mandar gravar quem ele quisesse.
Waldomiro Bariani Ortencio.. Pioneiro em Goiás, na venda de discos, vitrolas e
coisas do gênero, com uma rede de lojas que atendia todo o Centro Oeste do
Brasil. Tinha até discoteca-móvel. Isso mesmo, discoteca-móvel. O
"seu" Waldo mandou equipar uma Kombi, com prateleiras, mesinha para
aparelho de som que era alimentado pela bateria da Kombi, e contratou um
motorista-vendedor que percorria as cidades do interior do Estado de Goiás,
vendendo discos, e agulhas para vitrolas. Ideia brilhante, inovadora, produtiva
mesmo. O motorista contratado foi o Olídio Machado (Nuvem Negra), mineiro de
Ituiutaba, excelente primeira voz, havia feito parte de várias duplas,
inclusive gravado um disco 78 RPM com o Panamy (Nego Vilela) lá de Palmeiras de
Goiás. E, foi frequentando o Bazar do Waldomiro, que eu consegui o meu primeiro
emprego, com carteira assinada e tudo. Que o homem sempre foi muito correto no
cumprimento de suas obrigações. Eu me tornei uma espécie de secretário do
"manda chuva" e também auxiliar de escritório, na Empresa dele, a W.
Bariani Ortencio. Nome de fantasia: Bazar
Paulistinha. Até hoje não sei bem, por que ele me ofereceu aquele emprego. Eu
não tinha preparo para desempenhar as funções que me foram confiadas. Mas, não
desperdicei a oportunidade. Procurei aprender, substituindo a ineficiência,
pela boa vontade, usei a minha honestidade, um pouquinho de habilidade muita
dedicação ao compromisso assumido, com o desejo de corresponder a confiança que
ele depositara em mim. Eu sentia (e sinto) profunda admiração por aquele homem.
Pela maneira com que ele administrava a Empresa, como demonstrava tamanha
afeição pelo círculo familiar, e como acreditava nos objetivos que pretendia
alcançar (e alcançou), pela seriedade com que buscava sua estabilidade
Empresarial, pela sua idoneidade moral e também pela capacidade de conciliar
tudo isso, com a sua sensibilidade de artista. Empresário, Compositor e
Escritor. Para mim, essas características faziam dele um Super homem. Era
exigente, mas não era arrogante. Sabia muito, mas não menosprezava aos que
sabiam menos. Estagnar, nunca. Avançar, sempre. Esse era o seu lema. Waldomiro
Bariani Ortencio, um mito, nos segmentos do comércio, da música e da
literatura. Trabalhei com ele por mais de três anos. Foi graças ao seu apoio
que gravei com o Olídio (Nuvem Negra), um compacto duplo (quatro músicas) na
gravadora Áudio Fidelyti do Brasil. O destaque daquele disco foi a música "Ergam
as Taças", de autoria do
próprio Bariani, em parceria com o Lindomar Castilho.
ERGAM AS TAÇAS
Bariani Ortencio - Limdomar Catilho
MEU TORMANTO
Ubiraja Moreira - Parcival Moreira
ADEUS À BOEMIA
Marrequinho - Campeão
SE A LUA CONTASSE
Nuvem Negra
Foto: Bariani Ortencio
MARREQUINHO & NUVEM NEGRA
Sei
Seis
meses após a gravação do compacto, “Nuvem” Negra se desligou do quadro de
funcionários do Bazar Paulistinha. Com o seu afastamento, e, por não estarmos
colhendo nenhum resultado da nossa atuação artística, a nossa dupla foi
desfeita.
Pouco tempo depois, num gesto
impensado demonstrei muita insensatez e uma "baita" infantilidade. Um
dia, em que achei que o patrão estava mais exigente do que o de costume,
impulsivamente redigi um bem elaborado "PEDIDO
DE DEMISSÃO". E o homem, que não era de adular ninguém,
quando o recebeu, simplesmente escreveu com letras graúdas, que iam de um canto
ao outro do documento: C O N C E D I D O. E assim, o famoso compositor de música sertaneja, Marrequinho, voltou a
ser um desocupado.Com esse desfecho conheci na prática o
resultado de se cutucar onça com vara curta.
C
C
Chico Jr., Bariani Ortencio e
Marrequinho
Memórias de
Um Artista Sertanejo
Capítulo XVI
A Influência da Música Castelhana
Nas décadas de 50/60, a música castelhana
conquistou um público considerável, no Brasil, através de intérpretes como:
MIGUEL ACEVES MEJIA, LIBERTAD LA MARQUE, CUCO SANCHES, TRIO LOS PANCHOS, TRIO CRISTAL,
PEDRO VARGAS e outros. Os novos valores (alguns veteranos também) souberam
tirar proveito disso. Deitaram e rolaram, em cima dos cancioneiros mexicano e
paraguaio, principalmente, regravando músicas que foram sucesso, lá e aqui.
Compositores nossos, bem intencionados e capacitados, mostraram muito
profissionalismo e, respeitando a obra original e seus Autores, fizeram versões
maravilhosas, que o nosso público acatou com entusiasmo. Mas quando algum
compositor, com pouco conhecimento, encontrava dificuldade em traduzir a letra,
do original para o nosso idioma, recorria ao recurso das questionáveis
adaptações, muitas vezes deturpando totalmente o sentido do tema original. Com
isso, mostrando desrespeito ao(s) autor (es) da obra musical. Outros, mais inescrupulosos,
se apropriavam indevidamente da melodia, faziam uma letra que nada tinha a ver
com o tema original da canção, e lascavam seus nomes como Autores da mesma. Vou
citar um exemplo, apenas para sacramentar a declaração que fiz Mas, só vou
contar o milagre, não vou falar o nome do santo: MI MAZATLAN, sucesso de Miguel
Aceves Mejia, por toda a América Latina. Se alguém quiser tirar a limpo, é só
pesquisar... Intérpretes que tinham condição de dar boa interpretação para esse
novo estilo de música, enriqueceram seus respectivos repertórios e atingiram o
desejado resultado que era o de ter aceitação perante aqueles que ditam a
palavra final, os compradores de discos. E eles corresponderam plenamente às
expectativas. Aí, a música sertaneja se tornou realmente conhecida e ouvida em
quase todo o BRASIL. E ganharam a parada, aqueles que acreditaram em seu
potencial, e foram em frente. Nessa etapa, os responsáveis diretos por essa
conquista faziam parte da safra de novos valores e também de gente da velha guarda:
CASCATINHA E INHANA
NENETE E DORINHO
SULINO E MARRUEIRO
PEDRO BENTO, ZÉ DA ESTRADA
E CELINHO.
TIÃO CARREIRO E PARDINHO
ZILO E ZALO
SÉRGIO REIS (Importante
aquisição para a música sertaneja)
SILVEIRA E BARRINHA
DUDUCA E DALVAN
CAÇULA E MARINHEIRO
LINDOMAR CASTILHO
MILIONÁRIO E JOSÉ RICO
TIBAJI E MILTINHO
CRHISTIAN E RALF
CHITÃOZINHO E XORORÓ
GINO E GENO
BELMONTE E AMARAÍ
LÉO CANHOTO E ROBERTINHO
MATO GROSSO E MATHIAS
JOÃO MINEIRO E MARCIANO
PIÃO CARREIRO E PRAENSE
TRIO PARADA DURA (Creone, Barreirito e
Mangabinha)
TEODORO E SAMPAIO
SILVEIRA E SILVEIRINHA e
outros mais.
Possuíam estilos diferentes uns dos outros,
mas, tinham algo em comum: A crença inabalável de que estavam construindo algo
que ficaria para a posteridade, e ficou.
Para
Constar
Lá das terras dos "hermanos", vieram também alguns ritmos que
eram até então, quase desconhecidos para nós sertanejos. Huapango, Canção
Rancheira, Carrilhão, Tango, Polca Paraguaia etc.
LEIA OS CAPÍTULOS ANTERIORES DESTE LIVRO DE MEMÓRIAS. NESTE BLOG.
Contato com Marrequinho:
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