domingo, 4 de março de 2012

MARREQUINHO - O MENINO DE CAMPO FORMOSO

                MEMÓRIAS DE UM ARTISTA SERTANEJO

                                           Capítulo III
                                     A Mudança de Voz 
                                                     

Quando completei 14 anos de idade, passei por uma transformação que até hoje me intriga. Só que nunca procurei explicações de especialistas no assunto, para o acontecido. Como já disse, lá em casa todo mundo cantava. Eu, e um dos meus irmãos mais velhos, o Zé Ricardo (Zequita) cantávamos músicas de duplas que tinham estilo definido e possuíam vozes de timbre muito agudo. Com essa idade, minha voz era fina e eu cantava em tonalidade muito alta e por isso, fazia a primeira voz, que é a mais aguda.
Certo dia, fomos convidados por um nosso vizinho que comemorava não me lembro o que, em família, e usando política de boa vizinhança nos convidou ou "intimou" para que a gente fosse lá cantar alguma coisa também, já que estava entre seus convidados, uma dupla sertaneja, famosa, titular de programa de rádio e com um ou dois discos gravados (78 rpm) em São Paulo. A dupla em questão era formada por “Adolfinho e Chitãozinho” (Não era o Chitãozinho do Xororó) que a partir daquele encontro se tornaram meus amigos pessoais. Eu, entusiasmado por estar na presença de nomes tão famosos e incentivado por eles cantei com o meu irmão até alta madrugada. Voltei pra casa, orgulhoso, mas ansioso para dissipar a preocupação da mãe, que não estava acostumada (ainda), a ver os filhos chegando tão tarde, da rua.
Não foi nada não. Ao acordar, lá pelas tantas, depois de uma noite quase totalmente não dormida e após passar uma água pelo pescoço fui perguntar pra mãe se tinha um trem pra gente comer, com café. Levei um baita susto, quando ouvi, saindo da minha garganta, um som estranho, semelhante ao troar de um trovão enrouquecido. Não sei como nem porque aconteceu, mas, houve uma mudança de voz, repentina, e não gradativa, como acontece com os adolescentes, geralmente quando estão entre os quatorze e dezessete anos. A mudança da minha voz foi da noite para o dia, literalmente. Não aconteceu aquele trastejar característico de falar grosso e falar fino até que as cordas vocais se firmem definitivamente. O acontecimento me causou aflição já que com o novo timbre da minha voz, tornava-se impossível eu cantar as músicas de estilo agudo que havia cantado até então. Eram músicas dos repertórios de Tonico e Tinoco, Zico e Zeca, Vieira e Vieirinha, Campanha e Cuiabano, só para citar alguns exemplos. Minha voz tornou-se grave, muito grave. Passei algum tempo sem conseguir cantar nada, o que me deixou desorientado a beça. Tive que passar a fazer segunda voz e adotar um novo estilo de interpretação.
 
 
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