domingo, 26 de fevereiro de 2012

MARREQUINHO - O MENINO DE CAMPO FORMOSO




                       MEMÓRIAS DE UM ARTISTA SERTANEJO

                                    Capítulo II

                         A Mudança para Goiânia
                                                   
    
Em 1947, minha mãe foi aconselhada por sua irmã (tia Clotildes), que morava na nascente Goiânia a vir buscar oportunidades para a meninada que não via forma de sobreviver na pequenina cidade de Campo Formoso. O mesmo tio, Braulino, dono de um caminhão (International), se ofereceu para trazer (de graça, é claro) os cacarecos que compunham a mudança dos parentes pobres. E assim foi. Chegando á Goiânia, cada qual se esperneava como podia para conseguir qualquer trabalho, por mais insignificante que fosse, com o intuito de colaborar com o sustento da numerosa família. De minha parte, já com sete anos, arranjei uma caixa de engraxate com a qual conseguia alguns trocados, engraxando sapatos dos frequentadores do passeio de vai e vem, que se fazia na Praça Joaquim Lúcio, em Campinas e nas vizinhanças do Setor Bonfim, onde fomos morar. Fui jornaleiro, vendedor de doces (feitos pela minha mãe), cobrador de ônibus, carregador de marmitas pra trabalhadores que construíam a nova Capital goiana. Um pouco mais tarde fui lustrador de móveis, sistema de aplicação com uma “boneca” de algodão embebido em verniz (que consiste de goma laca dissolvida em álcool) e óleo de linhaça, que é o que permite que se aplique camadas, uma após a outra, até que a madeira do móvel fique com os poros cobertos pelo dito verniz e adquira o tão admirado brilho dos móveis envernizados. Hoje isso é feito de uma maneira bem mais fácil. Aplica-se o preparo com “revolver” de pintura e são usados produtos da mesma natureza, mas, de composições e consistências diferentes.
         Exercendo essa profissão (entre os quatorze e dezesseis anos de idade), eu e meu irmão Jair, trabalhamos por algum tempo (um ano e meio, talvez), numa firma recém-instalada em Goiânia, com o nome fantasia de "Móveis Novo Mundo", pioneira no ramo de móveis em Goiás, firma essa fundada pelo Sr. Luziano Martins (Zico) em sociedade com o Sr. Ciro Xavier. O lustrador chefe, chamado Altair tinha vínculo empregatício com a firma, e, terceirizava parte do serviço, a nós.  Os móveis a serem envernizados eram fabricados em Tupaciguara-MG e transportados de caminhão, para cá, onde se fazia o devido acabamento. A referida loja funcionava na Avenida Anhanguera, num imenso Galpão que ficava quase em frente a Rádio Brasil Central, no início da baixada do Botafogo (hoje Vila Nova). Mas, o que eu queria realmente, era me tornar um violeiro cantador. Um caipira.
Desde cedo (aos seis anos de idade) descobri certa queda para cantar em dueto, modas sertanejas que eu aprendia ouvindo rádio, geralmente na casa de algum parente ou vizinho, que a gente não possuía esse artefato que trazia notícias e cantigas de tão longe. Cantar em dueto é um dom nato de toda a minha família. Todos os meus irmãos eram cantadores. Como diria muito mais tarde o compositor, poeta e cantador Zé Mulato (Zé Mulato e Cassiano) em sua moda intitulada Violeiro, lá em casa quando nascia uma criança e quando a mesma chorava, quem prestasse atenção perceberia que ela chorava fazendo dueto na canção de ninar que a mãe carinhosamente cantarolava.
Por pouco tempo frequentei escola. Completei apenas o curso primário                                                                             que tinha a duração de quatro anos (hoje são nove), no Grupo Escolar Victor Coelho de Almeida que funcionava na Avenida São Paulo, em Campinas, onde sempre moramos.  Posteriormente o Grupo foi transferido lá pras banda da Vila Abajá. Guardo muitas lembranças boas de alguns colegas de classe, e, de certa professorinha que fazia sonhar a minha alma de criança. Fui, sou e serei, sempre, um sonhador. E, dos sonhos que sonhei, alguns realizei, outros, ainda não.

CONTATO COM MARREQUINHO: Email: marrequinhocompositor@hotmail.com
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segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

MARREQUINHO - O MENINO DE CAMPO FORMOSO


               

    
 Memórias de um Artista Sertanejo

                                             Capítulo I 

            Marrequinho - O Menino de Campo Formoso



Nome: Francisco Ricardo de Souza.
Nascimento: 14 de outubro de 1.940, na Fazenda Gato Preto, município de Orizona, (que antes se chamou Capela dos Corrêa, e Campo Formoso) Estado de Goiás. Sou o sexto dos oito filhos de Onofre Ricardo de Souza e de Maria Rosa da Piedade.  Meu pai era filho de Antonio Justino de Farias e de Maria Ricarda de Souza (Cocota). O lavrador mineiro, pobre, tinha se mudado para a região de Campo Formoso, em companhia de sua mãe (meu avô paterno já havia falecido) e suas quatro irmãs, minhas tias Maria, Conceição, Rosa e Joana. Vieram de Santa Rosa, MG, um lugarejo que fica entre Patrocínio e Coromandel. Minha mãe era natural de Campo Formoso-Go. Filha de Lázaro Martins Vieira e de Germana Rosa de Morais. Meus avós maternos tiveram seis filhos, três homens e três mulheres. Meus tios Antonio, Manoel, Braulino, Maria (minha mãe) e minhas tias Joaquina e Clotides. Com a morte do meu avô Lázaro, minha avó Germana se casou de novo e teve um sétimo filho, meu tio José Acácio.
           Quando o sertanejo mineiro Onofre Ricardo conheceu a sertaneja goiana, Maria Rosa, o resultado foi: Namoro e casamento. E, na sequência dos fatos, o nascimento de uma cambuia de oito "goianeiros". Minha mãe possuía alguns recursos, quando se casou. Tinha umas terrinhas (Gleba desmembrada da Fazenda Capim), umas tantas vacas leiteiras e alguns cavalos de sela. Pouco tempo depois do nascimento da minha irmã caçula Iolanda, meu pai adoeceu gravemente. Para se tratar e manter a família foi vendendo partes do pequeno patrimônio que era o único recurso disponível. Primeiro foram os animais, depois, alqueire por alqueire da pequena fazenda, até que não restou mais nada para ser vendido. Fomos morar na cidade. Pobres, muito pobres, de bens materiais. E meu pai, não se recuperou da doença que o acometera. Morreu aos quarenta e oito anos de idade. Fiquei órfão de pai aos seis anos. Presenciei minha mãe possuindo apenas fé e muita coragem encarar o desafio de chefiar a família formada por ela própria e oito filhos, dos quais o mais velho (Antonio) tinha na época, 18 anos. Ele havia terminado o curso primário (correspondente ao Curso Fundamental, hoje) no Grupo Escolar local e começou a lecionar, sob contrato, numa escola da zona rural. Outros três irmãos (Osmar, Evando e José) trabalhavam de vaqueiros nas fazendas das redondezas. Casa própria, necas. Moramos por algum tempo, de favor, em uma casa que pertencia a um irmão da minha mãe, o tio Braulino, e depois num imóvel de propriedade de um idoso e caridoso senhor (Maurity Silva) que generosamente se condoeu das dificuldades pelas quais passava a viúva do Onofre, como ele respeitosamente tratava minha mãe.